Pedro Schiavon | 25/08/2023 | 0 Comentários

JARDIM CULTURAL (Taubaté/SP)

“Pois eu tenho uma ideia muito boa, disse Emília: Fazer o livro comestível. Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. (…) O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas; lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado.” (do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato)

O paisagista Deto França não chega a pensar como a petulante bonequinha de pano, mas concorda com seu criador, Monteiro Lobato, conterrâneo das terras taubateanas, em muitas coisas. Uma delas é que “um país é feito com homens e livros”.

Deste modo e disposto a lutar contra a falta de opções culturais em sua cidade, ele resolveu criar um espaço onde pudesse promover leituras, shows, exposições, saraus, peças teatrais, projeções cinematográficas e muito mais.

Juntou, para isso, sua imprescindível turma – Tiago, Daniel, Beth, Rafaela e Galo – e tocou o barco seguindo os conselhos do Pedrinho: “o que vale não é ser gente grande, é ser gente de coragem”.

Não bastava, porém, escolher um lugar qualquer. Ele tinha que ser especial, aconchegante, bonito e ter uma proposta verde e sustentável. Montou então seu “Sítio do Picapau” em sua própria casa, passando a morar no quarto por um bom tempo.

A casa é agradabilíssima e deixa claro em cada detalhe que por ali passou um paisagista, e dos bons. Tem plantas e árvores por todo lado, jardins verticais e até “telhados verdes”. Tem cadeiras e mesas colhidas das lixeiras e luminárias, quadros e esculturas feitas com sucata. Tem fonte com água reaproveitável, nichos com sofás velhos para lá de confortáveis e guarda-sol feito com restos de antena parabólica. Tem diversão e arte para qualquer parte.

Sabedora, no entanto, de que nos tempos modernos a cultura por si só não atrai o grande público, a turma transformou a casa num grande bar, com repertório artístico e gastronômico bastante seletivos.

Ali, entre uma apresentação de chorinho ou jazz no “palco nave”, uma visita à lojinha “Coisa Fina”, um passeio por alguma exposição e um show de blues ou rock no “palco amigo do vizinho”, o público aproveita para provar os criativos petiscos e coquetéis da casa.

E como tem coisa boa nesse cardápio! Da cozinha, saem petiscos como o “Bolinho da Vovó” – feito de milho e que pode ser acompanhado de chutney de manga, alho, curry, mostarda, mel e gengibre, o “Saci Pururuca” – uma poção de torresmos em cubinhos salpicados de hortelã e que vem acompanhado de um copinho de cachaça, ou a “Tábua Pitágoras” – uma bela porção com mussarela, azeitonas, salame e caponata de berinjela.

Do balcão do bar, outras criações fazem sucesso, como o “Drinque da Chef” – feito com vodka, morango, guaraná e pimenta dedo-de-moça, o “Jorge Amado” – que leva cachaça Gabriela, maracujá e limão, ou ainda o “Veneno da Cuca” – gostosa mistura de vodka, soda limonada, kiwi e manjericão.

O Jardim Cultural é um lugar difícil de definir e mais difícil ainda de descrever, mas bem fácil de se apaixonar. Não à toa, bate cartão por ali uma animada e engajada turma de artistas, jornalistas, escritores, malucos e afins, que fazem parte do que Deto define como o “Lado B Pensante” da nossa terra.

Invariavelmente, sai-se de lá com mais ideias e sonhos na cabeça do que quando se entra. São projetos como os do dono da casa, que quer fazer os livros “voarem” de mão em mão ou exibir curtas-metragens em pontos de ônibus, entre tantos outros que surgem ali querendo transformar o mundo num lugar melhor.

“Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.” (Monteiro Lobato)

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