Pedro Schiavon | 08/08/2023 | 0 Comentários

MERCADO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

O Mercadão é o paraíso da gastronomia. Qualquer cozinheiro, comilão ou degustador amador que se preze fica completamente alucinado quando passeia entre os corredores do mais pitoresco e encantador entreposto do país. São ao todo 272 estandes, onde nos deparamos com uma inacreditável diversidade de frutas, verduras, legumes, vinhos, queijos, chocolates, carnes, peixes, frutos do mar, aves, embutidos, temperos e condimentos.

O majestoso prédio do Mercado Municipal de São Paulo, feito em mais de 12 mil m2 no estilo neoclássico e cheio de vitrais, começou a ser construído em 1928, mas foi inaugurado, com merecida pompa, em 1933, no aniversário da cidade.

No entanto, foi a reforma do início deste século que lhe devolveu o charme perdido ao longo dos tempos, iluminando e arejando seu espaço, criando um mezanino para restaurantes e enchendo-o de turistas.

As frutas 

Para brasileiros ou estrangeiros, o passeio deve começar – obrigatoriamente – pelas frutas. O que se vê por ali é um desvario, pouco difícil de descrever, mas certamente um show tanto para os olhos quanto para os paladares – especialmente os mais atrevidos.

Esqueça tudo aquilo que estamos acostumados a ver nas feiras, e que já é um deslumbre para os estrangeiros, como laranjas, maracujás, kiwis, ameixas, abacaxis, morangos, melões, pêssegos, melancias, jacas e maçãs. Tudo isso tem lá, sim, aos montes e maravilhosos, mas é melhor reservar espaço para novas descobertas.

hora de experimentar (e as bancas adoram distribuir amostras) frutas como granadilho, cajá, jambo, grapefruit, chirimoya, ingá, kino, umbú, abiu, longan, tamarillo, cambuci, buriti, camu-camu, físalis, rambutan, atemoia e vários tipos e cores diferentes de pitaya. Vale provar, por exemplo, o docíssimo sapoti, a atraente amora negra, o cultuado antioxidante mangostin ou o exótico canistel, conhecido como abacate caribenho, cuja polpa é tão amarela quanto uma gema de ovo.

Os queijos 

Entre as muitas e tentadoras barracas de queijo presentes, cabe falar um pouco dos Queijos Roni, cuja história começa com a chegada do calabrês Pedro Talarico ao interior de Minas Gerais, onde começou a produzir laticínios em 1889, e chega ao Mercadão pelas mãos de sua filha, Josephina, em 1933.

Sempre comandada pela família, a banca de queijos chegou às mãos de Roque Bruno Tadeu Peta, o Roni, que é bisneto do fundador, nos anos 90, e segue hoje com três bancas onde encontramos o queijo da família, hoje produzido em São Sebastião da Grama, em São Paulo. São 15 mil litros de leite por dia transformados em mussarela, provolone, ricota, meia-cura e curiosidades como o caciocavallo ou o butirro, que vem recheado de manteiga.

Massas, carnes, doces e especiarias

Entre as tantas bancas do Mercado, você encontrará maravilhas que, muitas vezes, só existem ali. É o caso das carnes do Rei dos Cabritos, espaço quase centenário criado pelo italiano Antonio Cavalieri, onde se acha cortes incomuns de cabrito, vitelo, cordeiro, javali, búfalo, faisão e outros, ou do octagenário Empório Chiappetta, criado pelo também italiano Carlos Chiappetta, que traz secos e molhados de várias partes da Europa, liderados pelo famoso bacalhau Gadus Morhua, vindo da Noruega.

Outra tentação das barracas são os doces, sejam eles os portugueses pastéis de Belém, oferecidos pela Dona Diva Doces, os libaneses ninhos de nozes e baklawas de pistaches, produzidos pelo Tio Ali Árabe, ou ainda as frutas secas, vendidas a granel por diversos fornecedores.

E não dá para deixar de falar em pequenos luxos que fazem a felicidade de qualquer gourmet. Como não se encantar com os vinhos do Empório Luso Brasileiro, com as azeitonas agridoces da Barraca do Levi, as lingüiças da Banca do Pacheco, os pignoles do Empório Raga, o presunto Pata Negra da Jamoneira Santa Thereza ou mesmo as ovas de salmão e as trufas dos empórios mais sofisticados da cidade?

Restaurantes

E tem, é claro, a parte da comilança. Além de algumas lanchonetes espalhadas pelos corredores, o deck conta com bons restaurantes e o local é extremamente agradável, com mesinhas espalhadas e com vista para o movimento das bancas. Porém, é bom (sempre) chegar cedo, já que a disputa pelas mesas é intensa em qualquer época do ano.

Uma boa dica é fugir dos mais procurados e provar camarões, ceviches e frutos do mar da Casa das Ostras, ou tomar algumas batidas no Brasileirinho, herança dos mesmos proprietários do Bar das Batidas, o lendário Cu do Padre, de Pinheiros. Mas as estrelas são mesmo os gigantescos sanduíches de mortadela e pastéis de bacalhau, hoje vendidos em vários locais, mas criados respectivamente pelo Bar do Mané e pelo Hocca Bar.

O pastel de bacalhau

O lendário pastel de bacalhau do Hocca Bar, já exaltado inclusive no Lugarzinho pela Daniela Escobar, leva simplesmente 200 gramas de um ótimo bacalhau – quantidade mais que suficiente para uma refeição completa. Com a receita centenária de dona Maria, o quitute traz o bacalhau muito bem refogado em bom azeite, salsinha e alguns condimentos que, claro, não são revelados, além de uma massa bem sequinha, macia e crocante, que o deixa mais leve e ainda mais saboroso. O sucesso é tamanho que a produção diária costuma ultrapassar a marca de mil pastéis.

O sanduíche de mortadela

Diz a história que tudo começou como uma provocação a um cliente que reclamou da pequena quantidade de mortadela em seu lanche. Isso foi nos anos 70, quando os irmãos portugueses Alberto e Jeremias Cardoso Loureiro – proprietários do Bar do Mané desde que o Mercadão abriu (e de antes até, quando ele era na Várzea do Carmo) – resolveram provocá-lo lotando o pão francês com fatias do embutido. Ocorreu que o gigantesco lanche fez sucesso e, desde então, o sanduíche passou a ser servido com 250 a 300 gramas de mortadela Ceratti dentro de um pão francês. Além dele, a casa serve lanches de copa e salame e versões de mortadela com queijo quente ou salada, mas a estrela segue sendo o clássico, que também costuma superar as mil unidades por dia.

Festa de aromas, cores e sabores Uma visita ao Mercado Municipal é uma experiência inesquecível para a visão, para o olfato e, certamente, para o paladar. Escolha uma boa data, com pouca gente, e reserve tempo para curtir, sem pressa. Da cidade que se intitula como a “capital brasileira da gastronomia”, o Mercadão é o maior símbolo.

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