Pedro Schiavon | 05/07/2023 | 0 Comentários

AMOREIRA

Uma loja de pequenos encantos para o dia a dia

Mestre João do Rio – que virou filme pelas lentes da Mini Kerti e pelas impecáveis ‘cores’ da Kiti Duarte – ensina que “flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas”.

É mais ou menos isso que a gente faz na Amoreira, a curiosa, estilosa e despreocupada loja da rua Macunis: a gente flana.

Criada em 2010 pelas primas Fernanda Rezende e Cristina Rogozinski, a loja convida a andar sem rumo entre uma infinidade de brinquedos, objetos de decoração, joias, produtos de papelaria e até algumas comidinhas.

A ideia, segundo as sócias, é oferecer o conceito de “slow shopping”, uma brincadeira das primas relativa ao “slow food”, tendência que se opõe, como nós, à velocidade do dia a dia seja no trabalho, na alimentação ou, no caso, nas compras.

Para isso, o projeto arquitetônico de Flávio Rogozinski transformou a antiga oficina de automóveis num grande galpão mais que agradável, com um mezanino e alguns balcões apenas, muito espaço, luz e ventilação naturais.

O que se percebe ao passear pelas prateleiras é que tudo ali dentro parece respeitar três conceitos básicos: reciclagem, criatividade e bom gosto.

Tem brinquedo de montão, para crianças e adultos, como os aviões de montar, os baralhos criativos, as cadeiras de isopor e os castelos de papelão.

Tem coisas antigas que viram novas e outras que fazem o contrário, como as máquinas de escrever decoradas, as cúpulas para taças com velas, a antiga bicicleta ou as novas câmeras Lomo e seu ar vintage.

Tem mimos para meninos e meninas, como as blusas pintadas e bordadas, as bolsas estilizadas e os anéis e brincos inspirados em pássaros e plantas.

Tem comidinhas e bebidinhas tentadoras, como os chocolates, chás e cafés orgânicos, os queijos, as massas, tortas e bolos congelados.

E tem gente como nós – profissionais diversos que viramos artistas, adultos que viramos crianças e estressados paulistanos que viramos sonhadores dentro da loja.

Amoreira é mais do que uma homenagem ao pé de amora que existe em frente à casa – e muito mais que uma brincadeira com o sobrenome Moreira, que complementa os nomes das sócias.

Amoreira é um lugar de lembranças soltas no tempo – das amoreiras que não enchem mais as ruas, das amoras colhidas na infância – e daquela saudade de Mário Quintana, aquela que dói mais fundo: a saudade que temos de nós mesmos.

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