GONDWANA BRASIL (Curitiba/PR)
Com o objetivo de inspirar e promover avanços nas discussões e práticas sobre turismo responsável e sustentável no Brasil, o Ministério do Turismo – MTur e o Centro de Estudos de Turismo e Desenvolvimento Social (CETES/USP) lançaram o livro “Turismo Responsável: resultados que inspiram”, de autoria de Marianne de Oliveira Costa, Ana Rosa Proença, Karina Toledo Solha e Gustavo Pereira Pinto. Elaborado pelo Instituto Vivejar, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, o livro reúne 10 exemplos de iniciativas comprometidas com um turismo de impactos positivos em território nacional. Uma delas é o Gondwana Brasil, cuja matéria reproduzimos abaixo.
Mas independentemente de ler esse trecho aqui no Lugarzinho, vale a pena demais você ler o restante do livro, que traz todas as iniciativas selecionadas e um amplo contexto em que nasce e se desenvolve o movimento do Turismo Responsável, além de muitas dicas de como empresas, destinos, organizações e viajantes podem começar a colocar a responsabilidade em prática e motivações para serem adotadas durante o processo. Divirta-se!
GONDWANA BRASIL (Curitiba/PR)
“Proporcionar viagens que gerem interações significativas entre os viajantes, as comunidades locais e o meio ambiente, levando à transformação social e, por fim, a um impacto positivo no planeta”.
A missão da Gondwana Brasil transcende o propósito de oferecer viagens inesquecíveis. É um compromisso enraizado em seus valores, uma expressão genuína de sua aspiração de ser uma ponte entre culturas, conectando pessoas e comunidades de todo o Brasil com o mundo lá fora.
A empresa acredita no poder transformador do turismo e na capacidade de gerar mudanças significativas na vida das pessoas. Entendem que cada encontro, cada momento compartilhado, é uma oportunidade única carregada de responsabilidade e significado. Por isso, buscam não apenas criar experiências memoráveis, mas também cultivar conexões autênticas que transcendam as fronteiras geográficas e culturais.

A Gondwana Brasil Ecoturismo foi fundada em abril de 2001 por Alessandra Schneider, uma entusiasta do ecoturismo e campeã paranaense de escalada esportiva. Inicialmente, a empresa operava a partir do seu apartamento em Curitiba, oferecendo roteiros de ecoturismo ao redor da cidade. Daniela Meres Silva, começou como estagiária e em 2002 tornou-se sócia, permanecendo até hoje. Com o objetivo de atender à demanda internacional por viagens de ecoturismo e aventura no Brasil, a Gondwana Brasil estabeleceu uma parceria com o grupo Exodus (Austrália) em 2001.
Em 2005, Alessandra decidiu tomar novos rumos profissionais, e em 2006, a convite de Daniela, Camila Barp tornou-se sócia com o propósito de tornar a Gondwana Brasil reconhecida no Brasil e no mundo como uma operadora de ecoturismo de destaque. Atualmente, a empresa se tornou uma Operadora de Turismo Receptivo (Destination Management Company – DMC) especializada no Brasil, que trabalha atendendo o mercado B2B, em parceria com Operadores e Agências de Turismo da Europa, Estados Unidos, Austrália, Canadá e outros países. Conta com uma equipe de 18 pessoas, sendo 14 mulheres e 4 homens, cuja ampliação tem como critérios a diversidade e a equidade de gênero.
Prioriza-se oportunidades para mulheres, considerando a dificuldade que enfrentam para assumir posições de liderança e se reinserirem no mercado de trabalho. Reconhece a importância de envolver não apenas seus colaboradores, mas também seus clientes e fornecedores. Buscam constantemente o impacto positivo em todas as nossas interações, nutrindo relacionamentos baseados na confiança, respeito e colaboração mútua.
As viagens oferecidas pela empresa trazem conexão com a vida ao ar livre, interação com as comunidades locais e atividades envolvendo a natureza, dentro de um desenho elaborado para cada tipo de público. Seus principais itinerários são: Rio de Janeiro e Costa Verde, Foz do Iguaçu, Salvador, Pantanal e Amazônia. Além disso, há uma crescente demanda por Lençóis Maranhenses (MA), Vale do Pati (BA), Reserva Ecológica da Juatinga (RJ).
A ideia é trabalhar tanto com locais ainda pouco conhecidos quanto com destinos clássicos, e apresentar um Brasil autêntico para os diferentes perfis de clientes que buscam a Gondwana Brasil: famílias, casais, viajantes solos e viajantes que viajam em pequenos grupos. Cada grupo possui características que influenciam a experiência a ser oferecida, por exemplo, no interesse específico de cada cliente, na quantidade de dias ou na flexibilidade em relação ao roteiro. Entretanto, a empresa nota que seus clientes estrangeiros já buscam viagens dentro do Brasil com menos emissão de CO2, ou seja, com menos deslocamentos e menos voos domésticos, optando por ficar mais tempo em cada lugar. As experiências desenvolvidas e ofertadas passam por elementos e pilares basilares para a empresa, incluindo: qualidade do serviço oferecido, guias e condutores bem-preparados, equipe de especialistas experientes, buscando sempre gerar impactos positivos, beneficiando tanto os viajantes quanto os destinos. Além disso, a Gondwana Brasil está comprometida com práticas de Turismo Responsável, o que envolve:
Segurança: Como membros de entidades-chave no ecoturismo e turismo de aventura, como ABETA e ATTA, estão sempre buscando atender os padrões de segurança por meio de treinamentos e protocolos de procedimentos.
Atividades culturais: Degustação de iguarias locais, imersão na arte dos artesãos regionais, diálogo autêntico com os moradores locais e apresentações culturais enriquecedoras, sem pressionar ou impor expectativas.
Curadoria de experiências: Cada experiência passa por um processo de curadoria único. A equipe da Gondwana Brasil vivencia em primeira mão as nuances das comunidades, culturas e possibilidades locais para criar roteiros autênticos e alinhados aos valores e propósitos da empresa e da comunidade, firmando parceria com as lideranças locais, verdadeiros embaixadores de seus destinos.
Comunicação transparente com os clientes sobre suas parcerias: Além de estabelecer parcerias com projetos e pessoas locais, se empenham em sensibilizar seus clientes e parceiros sobre a importância e responsabilidade envolvidas em cada ação.
Esses elementos são fundamentais para garantir a prática de justo comércio com os fornecedores e oferecer experiências autênticas aos viajantes, que promovam o contato com a natureza e a cultura local e que expressem os valores e as práticas da empresa.
Nos últimos anos, a empresa percebeu que houve uma mudança em sua relação com o mercado, uma vez que saíram da posição de “empresa alternativa” para “empresa alinhada ao discurso atual”, devido à disseminação do ESG e de programas de Certificação em Sustentabilidade. Ser uma empresa sustentável e responsável tornou-se uma qualidade buscada por vários clientes e uma demanda a ser suprida por grandes empresas. Assim, a Gondwana Brasil percebeu na prática que houve uma mudança de valores das pessoas nas buscas por viagens responsáveis, mas também notou que acontece uma pressão de diferentes lados em busca do ESG, principalmente por atuarem no mercado internacional europeu.
Quando “ser sustentável” explodiu no mercado como tendência, a Gondwana Brasil já trazia essa consciência, além de um desejo latente de seguir na direção das práticas e roteiros mais sustentáveis e responsáveis. Isso porque a empresa representa o que a Daniela e a Camila são, no que elas acreditam, o que elas entendem como propósito de vida (dentro e fora da empresa), o que elas vivem, gostam e experimentam. Por isso, elas transmitem o que acreditam e dão o tom das experiências criadas e oferecidas, e isso resultou em mais reconhecimento.
“Acredito muito nas viagens como um grande potencial de transformação humana. Acredito muito nisso! Não acho que seja a única forma, obviamente, mas é o que eu vivo, é o que eu percebo” (Camila Barp).
No início eram buscadas por clientes já alinhados ao propósito da empresa, por se verem representados nas experiências ofertadas, hoje Camila e Daniela notam que há também aqueles que chegam pela tendência, mas que confiam no comprometimento, seriedade, organização e qualidade com que a empresa entrega seus serviços. Ainda que seja uma tendência positiva, o mercado também está atento à coerência entre discurso e prática.
A pandemia da covid-19 trouxe inúmeros desafios para as empresas do setor de turismo. Na Gondwana Brasil, isso se refletiu em impactos financeiros significativos, mas também representou um momento de reafirmação do compromisso da empresa com a responsabilidade social. Durante a crise, a empresa se deparou com a necessidade de colocar em prática os valores que sempre defendeu.
Durante o primeiro ano da pandemia, buscaram manter toda a equipe, apesar das atividades estarem paralisadas. Elas optaram por adotar programas de redução de carga horária e conceder férias antecipadas, evitando ao máximo demissões. Infelizmente, a crise persistiu por mais tempo do que esperavam, especialmente no turismo internacional, o que as obrigou a desligar a maior parte da equipe posteriormente. Conscientes das dificuldades que essas pessoas enfrentariam em um mercado paralisado, elas consideraram a situação financeira individual de cada colaborador no momento do desligamento, mantiveram os benefícios de vale-refeição e plano de saúde por seis meses e, em alguns casos, ofereceram apoio financeiro adicional.
Elas entraram em contato com mais de 300 fornecedores, incluindo hotéis, empresas de transporte e guias turísticos em todo o Brasil, para verificar como estavam eles e suas famílias. Esse gesto, aparentemente simples, foi grandioso para muitos, pois a Gondwana Brasil foi uma das poucas empresas a demonstrar preocupação com seus fornecedores. Elas ofereceram apoio emocional e financeiro àqueles que mais precisavam. Até hoje, elas recebem agradecimentos dos guias, que se sentiram valorizados em um momento de grande dificuldade, quando muitos se sentiram esquecidos pelo setor. A Gondwana Brasil não solicitou a devolução de pagamentos já realizados aos fornecedores, garantindo a estabilidade financeira desses parceiros, que dependem exclusivamente do turismo. Ao mesmo tempo, pediram aos clientes que também não exigissem a devolução desses adiantamentos, pois esses recursos ajudariam a manter os negócios locais no Brasil. Essa ação evitou que muitos pequenos empreendimentos quebrassem durante esse período. Isso só foi possível graças à confiança dos clientes, que concordaram em deixar esses valores como créditos para serem utilizados em futuras viagens. É importante destacar que 95% dos clientes aceitaram essa condição, demonstrando uma forte relação de confiança entre a Gondwana Brasil e seus parceiros internacionais, assim como um senso de responsabilidade compartilhada. Por mais de 3 anos elas honram cada crédito e cada gesto de confiança, e hoje elas podem dizer com alegria que já devolvemos 100% desses créditos aos nossos clientes.
Após 18 meses de completa paralisação no turismo internacional, as reservas financeiras da empresa chegaram ao limite. Mesmo com as atividades paralisadas, elas mantiveram uma equipe reduzida de cinco colaboradores, garantindo remuneração e benefícios até o momento da retomada do setor de viagens, quando esperavam se restabelecer e se reerguer financeiramente.
Esse momento estimulou também a criação de uma nova frente dentro da Gondwana Brasil, uma retomada da origem da empresa: o projeto Gond Local, iniciado em dezembro de 2020 com o objetivo de promover experiências no Paraná e na região da Mata Atlântica, voltadas ao público brasileiro.
Quando o turismo começou sua retomada, no período pós-vacinação e com o surgimento de protocolos de biossegurança para as viagens, toda a equipe se viu em um novo momento do negócio. Pararam para avaliar o que ainda fazia sentido para a empresa e, assim, iniciaram um processo de rebranding, olhando-se de novo após 22 anos de empresa e revendo a comunicação visual, o discurso, o tom de voz, a narrativa, as cores e a comunicação interna e externa.
Esse novo momento trouxe outra mudança. As sócias, que antes concentravam muitas responsabilidades, passaram a delegar e dividir mais as responsabilidades. Isso porque, durante a crise, os colaboradores pediam soluções às duas e elas viram que era necessário que fossem soluções pensadas por todos, não apenas por elas. Mas, para isso, precisavam abrir espaço para outras lideranças dentro da empresa, ou seja, desierarquizar os processos. Atualmente a empresa passa por esse processo de estímulo a novas lideranças, com mais autonomia e constantes dinâmicas de equipe para manter o alinhamento dos times presenciais e remotos e garantir que, caso haja uma nova crise parecida com a da pandemia da covid-19, a solução seja buscada por todos.
A Gondwana Brasil trabalha com mais de 400 fornecedores nacionais, muitos deles também liderados por mulheres. Reconhece a importância de trabalhar em conjunto com seus fornecedores para promover práticas e viagens mais sustentáveis, desenvolvendo boas práticas e compartilhando aprendizados e responsabilidades, para oferecer as diversas experiências promovidas em território nacional. Para isso, possui critérios e pré-requisitos que visam manter os valores e a qualidade dos produtos oferecidos:
• Gestão da segurança nas viagens, mesmo que incorra em valores maiores que os de empresas com perfil parecido.
• Autenticidade das experiências, evitando estereótipos sobre territórios, culturas e pessoas do Brasil.
• Protagonismo local, para garantir que haja impacto positivo e autenticidade nos roteiros.
• Priorização de empreendimentos turísticos de pessoas locais, evitando ao máximo redes grandes ou estrangeiras.
• Geração de renda local, entendendo para onde é destinado o dinheiro e quantas pessoas são afetadas a partir da visita.
• Qualidade dos encontros entre viajantes e anfitriões, facilitados e organizados pela empresa.
• Pouca ou nenhuma interação direta com animais silvestres, sempre levando em consideração os contextos e as diferenças regionais.
• Alinhamento constante com parceiros para entender o contexto local e as peculiaridades da região, bem como para reforçar os pilares que orientam as experiências e as condutas.
A Gondwana Brasil também está empenhada em seguir os padrões de qualidade, sustentabilidade e responsabilidade social estabelecidos pelo programa de certificação em Turismo Sustentável, Travelife, reconhecido internacionalmente. Embora as sócias da Gondwana Brasil reconheçam que o processo para alcançar esses padrões seja desafiador e longo, elas entendem que é fundamental. Atualmente, a empresa está engajada com o programa, progredindo e buscando ativamente parcerias com empresas alinhadas aos princípios do turismo sustentável.
“Reconhecemos que, embora muitos negócios no Brasil ainda não estejam prontos para a certificação, é essencial continuarmos comprometidos e buscarmos a adoção das melhores práticas possíveis. Só assim poderemos dar os passos necessários para tornarmos o setor de viagens mais sustentável.” (Daniela Meres)
Esse cuidado resulta em valores maiores em relação a empresas com serviço similar, porém a Gondwana Brasil faz questão de apresentar os números de forma transparente e mostrar que o valor mais alto significa: segurança e cuidado com a vida dos clientes; compromissos e valores da empresa; certificação Travelife; fornecedores remunerados de forma justa – sem cortes de funcionários ou baixa remuneração.
O principal pré-requisito na escolha de hotéis, por exemplo, é que sejam de pessoais locais, evitando grandes redes ou negócios estrangeiros. Em 2023, em parceria com os principais hotéis e pousadas da Amazônia e Pantanal, a operadora realizou um levantamento das Boas Práticas e protocolos sustentáveis já implementados. Com esse trabalho, foi desenvolvida uma matriz de avaliação que pontua as práticas e ações sustentáveis de cada empreendimento em diferentes dimensões. A ideia é fornecer uma pontuação que auxilie tanto a Gondwana Brasil quanto os parceiros a terem um ponto de partida e, ao longo do tempo, por meio de treinamentos, investimentos e trocas de experiências, acompanhar a evolução e implementação das boas práticas de sustentabilidade.
Já em relação à interação com animais silvestres em passeios, que ocorre principalmente na Amazônia e no Pantanal, a empresa firmou uma parceria com a World Animal Protection para sensibilizar fornecedores e viajantes, visando minimizar esses impactos, dado que ainda existem muitas empresas que oferecem esse tipo de atividade. É de suma importância trabalhar em conjunto com o mercado para conscientizá-lo e desencorajar a participação em atividades que promovam a interação de forma irresponsável, causando danos à fauna local.
A Gondwana Brasil entende que é uma ponte: por um lado, tem um papel importante de educar e sensibilizar o mercado, mas por outro, precisa estar próxima e trabalhar em conjunto com seus fornecedores e parceiros. Com eles, tem tentado identificar seus maiores desafios e oportunidades, pois o próximo passo é atuar de forma mais ativa, investindo nesses negócios, além de contribuir para a geração de receitas com o envio de clientes o ano todo. Esse investimento será oferecido por meio de intercâmbio de experiências em boas práticas de sustentabilidade, mentorias, investimento financeiro, entre outras ações.
Eu fui, recentemente, em uma reunião de uma operadora da Holanda, que é gigante, de capital aberto. E eles falaram assim: “Ah, a gente apoia 100 projetos no mundo”. Ao questionar como eles apoiam, falaram que apoiam enviando turistas para lá. E eu até escrevi para eles depois: “Como a gente pode apoiar de uma outra forma, em um outro grau, que seja compatível com o seu tamanho? (Camila Barp).
A Gondwana Brasil busca contribuir com doações a projetos sociais e ambientais, compreendendo que esta é uma das formas de colaborar com a conservação da natureza e proteção do patrimônio histórico-cultural do nosso país, sendo essa uma forma legítima de retribuir com o que é mais valioso nas viagens: a nossa natureza, cultura, pessoas e os destinos. Além disso, está constantemente buscando maneiras de apoiar cada vez mais a transformação da realidade do nosso país por meio do turismo.
A empresa quer compreender cada vez mais para onde vai o dinheiro gerado pelas viagens: o que representa cada real que entra? Para onde ele é direcionado? Que impacto isso gera? O que ele potencializa? As sócias da Gondwana Brasil enxergam a empresa como “uma grande catalisadora capaz de redistribuir a renda gerada através das viagens, pois traz turistas internacionais ao Brasil e reinveste isso internamente”. Portanto, além de gerar impactos econômicos positivos direta e indiretamente, a empresa busca entender profundamente sua responsabilidade em todo o seu potencial transformador, fortalecendo assim a visão da distribuição de renda no nosso país.
Todo esse trabalho é comunicado nas redes sociais, no site, em matérias e na newsletter mensal, voltada a clientes e fornecedores, falando sobre roteiros e também do posicionamento da empresa (valores e princípios). Além disso, a Gondwana Brasil produziu um manifesto pontuando todos os seus compromissos e a sua tomada de responsabilidade.
A empresa também promove uma sensibilização dos turistas para que saibam que, ao investirem nos roteiros da empresa, contribuem para o impacto positivo nos parceiros e territórios daquela operação. Isso é reforçado pelos guias e condutores, que atuam mais diretamente com os clientes, transmitindo os princípios e valores da empresa, explicando o que significa a visita a determinado local, contando uma narrativa que sensibilize o turista, como também se posicionando em casos que clientes passem dos limites ou descumpram alguma das regras da viagem.
Com base na certificação com a Travelife, a Gondwana Brasil está se organizando para lançar um relatório de impactos a partir de 2024, gerando ainda mais visibilidade e transparência de todo o impacto e da responsabilidade tomada. A prática de transparência financeira já é realizada por meio de reuniões mensais nas quais a situação financeira é apresentada aos colaboradores. Outra medida de transparência, incentivada entre os colaboradores, é a de assumir quando errou, pedir ajuda e seguir em frente, tanto internamente quanto com fornecedores e clientes. Isso faz com que a vulnerabilidade mostrada crie laços e que relembrem que, ao final de tudo, são pessoas ali – com seus acertos e erros.
Como evidência do impacto positivo, hoje a empresa faz avaliações, a partir dos relatos de clientes que topam responder, para mensurar duas etapas: a entrega dos serviços (guias, tours, acomodação, alimentação e transporte) e a percepção sobre o Brasil após a viagem, se houve mudança, qual era a expectativa e qual o grau de transformação que a viagem gerou. A segunda etapa só pode ser atingida a partir da boa prática da primeira, por isso avaliam ambos. A maioria dos clientes terminam a experiência totalmente apaixonados pelo Brasil, pelo estilo de vida do país, e repensam muitas coisas de suas vidas. Os turistas apontam que a experiência no Brasil é transformadora! Pois param para refletir sobre o que realmente importa ao estarem em contato com a natureza, com vidas mais simples e fora das telas.
O brasileiro tem essa capacidade de ser feliz. Isso está muito na nossa narrativa. Isso é algo muito forte também na Gondwana Brasil, essa questão da diversão, inclusive da gente – nossa, quando a gente viaja, a gente não é uma empresa formal – , então a gente tenta passar muito isso também. Isso é um componente importante na Gondwana Brasil. Que seja divertido, que seja legal, que seja leve… E as pessoas ficam impactadas com as pessoas do Brasil. É muito forte essa experiência! (Camila Barp).
Por atuar majoritariamente com clientes europeus, a empresa tem trabalhado bastante com narrativas decoloniais, apoiando projetos que adotem essa perspectiva. Isso tem sido um valor importante na Gondwana Brasil: recontar a história colonizadora que nos foi ensinada, buscar a visão crítica dela e permitir que essa visão seja trazida de forma respeitosa e educada, mas colocando-a nas comunicações com os clientes.
O próximo passo da empresa é obter a certificação de Empresa B, apesar de já realizar boa parte das práticas desse modelo. A Gondwana Brasil ganhou em 2021 o prêmio Natureza Empreendedora, da Fundação Boticário, com o projeto Gond Local, por sua atuação responsável durante a pandemia, que conseguiu envolver 20 empresas locais nesse período de grandes dificuldades para o setor. Em 2022, foi uma das finalistas do Prêmio de Turismo Responsável da WTM Latin America, também com o projeto Gond Local, mas não chegou a ganhar o prêmio.
Para a Gondwana Brasil, ser uma empresa responsável no Brasil possui desafios. Camila e Daniela destacam como principais deles:
• A falta de políticas públicas para investir financeiramente em empresas e empreendimentos comprometidos com boas práticas de responsabilidade e sustentabilidade.
• A falta de informação e promoção direcionadas sobre a oferta de turismo responsável no Brasil,
• A necessidade de investir em uma comunicação sobre o destino Brasil que vá além dos estereótipos do mercado convencional.
• A falta de uma visão estratégica do setor de Turismo na maioria dos Estados brasileiros, como um grande catalisador de transformação e distribuição de renda nos destinos.
• O aumento do fluxo de turismo, em alguns casos, até de turismo de massa, em importantes destinos do Brasil, sem que haja estrutura e planejamento adequados para absorver a demanda.
• A falta de incentivo com linhas de créditos especiais para empreendimentos que sejam voltados para o turismo responsável e turismo sustentável no Brasil.
A empresa participa ativamente de grandes associações representativas do mercado, pois acredita no valor do trabalho coletivo e da contribuição em debates públicos e privados. No Brasil, faz parte da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA) e do Coletivo Muda! pelo Turismo Responsável. Também é associada da ATTA, da Associação Latino-Americana de Viagens (Latin American Travel Association – LATA) e da LATA Nordic, além de firmar parcerias com instituições como a The Code4 e a World Animal Protection.
4 Forma curta de se referir ao Código de Conduta para a proteção de crianças contra a exploração sexual em viagens e turismo. Sua missão é promover sensibilização e oferecer ferramentas e suporte para a indústria de viagens e turismo em vista de prevenir a exploração sexual de crianças e adolescentes. Seus membros se comprometem voluntariamente a cumprir para manter crianças e adolescentes seguros.
O que aprendemos com o caso da Gondwana Brasil?
Investir na curadoria das experiências.
Investimento em reposicionamento de marca para entender seu novo momento pós-pandemia.
Comunicação interna alinhada.
Comunicação externa sobre o trabalho que está sendo feito.
Conhecem pessoalmente 95% dos clientes.
Vendem apenas aquilo que vivenciam.
A empresa é o que as sócias são em essência.
Transparência interna na comunicação dos erros, dos acertos e da situação financeira da empresa. Fornecedores prioritários.
Critérios definidos para a seleção de fornecedores.
Critérios de gênero para a seleção da equipe.
Mensuração da geração de renda local a partir da atuação da empresa.
nvestimento em um relatório de impactos.
Investimento em certificação internacional aceita na Europa e pelo mercado.
Se enxergam e se posicionam como negócio de impacto do turismo.
Insistir e persistir no argumento de que experiências e empresas como a Gondwana Brasil valem a pena.
Todos os colaboradores sentem, quando vão a algum evento ou lugar, o carinho e respeito que a empresa tem de clientes e fornecedores.