FAROFA DE IÇÁ (Vale do Paraíba/SP)
Provar a farofa de içá no Vale do Paraíba é uma experiência que mistura descoberta e pertencimento. Há algo de íntimo em aceitar o que a mata oferece e transformá‑lo em sabor — é uma lição de economia rural enquanto se saboreia algo que, a princípio, parece pequeno e exótico demais para carregar tanta história.
Içá é o nome comum dado à rainha e, em muitas falas locais, às grandes saúvas. A colheita tradicional acontece logo após a revoada — quando as formigas aladas saem para fundar novas colônias — e o ritual de tirar as asas, torrar e temperar é tão delicado quanto essencial. A torrada transforma a proteína miúda em um alimento crocante, de sabor levemente torrado, que lembra nozes e umami – o tal do quinto sabor que sentimos na língua e que é tão difícil de explicar.
Historicamente, a içá aparece nas mesas da população rural do Vale do Paraíba como recurso proteico e também por sua abundância sazonal. Em cantos do interior, as casas guardavam potes com farofa de içá para acompanhar feijão, cachaça ou um café forte — um petisco simples, direto dos ninhos subterrâneos para a cozinha.

Curiosidades:
- Sazonalidade: a melhor época costuma ser entre novembro e dezembro, quando as revoadas acontecem; fora disso, a oferta diminui e o preço sobe.
- Sabor e textura: a torra correta faz com que as içás fiquem crocantes sem amargar — o que separa a farofa caseira da industrializada.
- Versões modernas: chefs e botecos têm reinventado a farofa: com banana‑da‑terra, com ovo mexido, em recheios de tapioca ou até acompanhando pratos à base de leite de coco.
- Sustentabilidade: a coleta responsável respeita a sazonalidade e evita o esgotamento de colônias; procure produtores e restaurantes que seguem práticas locais e conscientes.

Onde provar?
Em alguns lugares do Vale, a farofa de içá ganhou status de iguaria regional. Dois endereços em Silveiras costumam aparecer nas conversas de quem visita a Serra da Bocaina e não quer voltar sem experimentar o clássico:
Restaurante do Ocílio / Trempe — Silveiras
O Restaurante tem fama de comida caipira autêntica: panela de ferro, tempero de mão, atmosfera tropeira, porções generosas e aquele senso de lugar onde a tradição é real, e não encenada. A farofa de içá é tratada como estrela: servida com carinho, crocante, acompanhada pratos simples e funciona como tira‑gosto. É um encontro entre a cozinha de beira de estrada e as receitas de matriz tropeira: . honesta e com um certo orgulho interiorano.

Queijo com içá: a surpresa de Caçapava
Se a farofa já surpreende, o queijo com içá é uma declaração de amor à inventividade regional. Em Caçapava, a Estância Silvania – uma fazenda-queijaria que combina tradição, inovação e terroir regional – adicionou as formigas torradas à massa e o resultado é o Queijo Taiada: adocicado, macio, de massa semi-cozida, prensado e maturado por 60 dias que desenvolve sabor único, notas marcantes de amêndoa e a crocância da formiga – o que faz o queijo virar petisco de bar e entrada de jantar.
Fundada em 1962 com foco na criação de gado Gir Leiteiro, a propriedade evoluiu para a produção de leite do tipo A2A2 e queijos artesanais de elevado padrão. Sob o olhar da talentosíssima e criativa mestre queijeira Camila Almeida, a Estância implementou sistemas de bem-estar animal, manejo sustentável e processos de maturação cuidadosos que resultaram em queijos premiados nacional e internacionalmente.
Para visitantes interessados em turismo gastronômico ou rural, a Estância Silvania oferece experiência de visitação — desde a ordenha até a degustação —, além de comercializar seus queijos diretamente na unidade ou mediante encomenda.
Restaurante do Ocílio / Trempe – Rodovia dos Tropeiros, 218 – Ventura, Silveiras. Tel (12) 98182-3161
Estância Silvania — Rodovia Prefeito Osório da Cunha Lara Neto, 5999, Caçapava. Tel (12) 99713-7144






