ATELIÊ EDUARDO KOBRA (Itu/SP)
Foi graças a um trabalho de escola do Chico que fomos visitar o ateliê do muralista Eduardo Kobra, em Itu. A curiosa escolha do tema por alguém de 10 anos se deveu à crescente admiração dele pelo artista, cujo trabalho acompanha desde muito pequeno, quando morávamos em uma região tomada por suas obras, e que o passar do tempo trouxe uma maior compreensão de suas mensagens.

Aproveito parte desse trabalho aqui: “Eduardo Kobra nasceu na região do Campo Limpo, em São Paulo, e começou sua trajetória como pichador nos anos 1980. Logo descobriu o grafite e com ele, a possibilidade de levar os desenhos que tomavam todos os seus cadernos para as ruas. Com um talento nato, mas com muita dedicação, se aprofundou nos estudos de muitos artistas – a destacar Basquiat, Andy Warhol, Bansky, Keith Harring e os grandes muralistas mexicanos – para desenvolver seu próprio estilo, único, que mescla o hiper-realismo com padrões geométricos vibrantes e uma paleta de cores marcante, que facilmente identificamos por aí, destacando-se do cinza do concreto da cidade”.
Hoje isso pode ser visto em várias partes do mundo, já que seus murais já estão em mais de 30 países de 5 continentes, como os retratos de Anne Frank, na Alemanha; de Nelson Mandela, no Malaui; e os de vários ícones da música como Michael Jackson, John Lennon, Janis Joplin, Kurt Cobain e outros em Nova York. Ou nas fachadas de prédios em São Paulo com imagens de Oscar Nyemeyer ou Ayrton Senna; e ainda nos gigantescos “Etnias” e “Cacau”, que entraram para os livros dos recordes.

O Ateliê
Em 2024, Kobra transferiu seu ateliê para Itu e resolveu abri-lo à visitação. Escolheu para isso um dos locais mais legais da cidade: o FAMA Museu, um imenso espaço aberto que concentra exposições diversas, esculturas e objetos históricos a céu aberto, antiquários e até ótimos restaurantes. Um lugarzinho que já vale umas boas horas do passeio.
Entrar no ateliê é imergir na mente criativa do pintor: latas de tinta empilhadas às centenas, pincéis usados, esboços colados nas paredes e grandes telas em produção. Tudo está ali para todos observarem.

A visita pode ser livre ou guiada. No segundo caso, que vale muito a pena, precisa ser agendada com antecedência com a cordial e prestativa Mariana Godoy pelo e-mail atelie@eduardokobra.com e é monitorada com devoção e simpatia pela Bruna Ferraz.
À entrada do galpão, fica exposta uma obra inacabada: é uma versão de “The Future is Now”, em tamanho aproximado de 2×4 metros. Ela está ali, propositalmente deste modo, para que todos possam ver de perto todo o processo de um mural:

Primeiro, o desenho é feito e pintado no papel, em tamanho pequeno, e quadriculado para servir de referência à sua versão ampliada. Depois disso, a parede que irá receber o mural é pintada de branco e quadriculada – cada quadrado grande da parede corresponde a um pequeno quadradinho do papel. A partir daí, Kobra faz o desenho em preto na parede. Esse trabalho costuma levar dias, pois é tudo feito nos mínimos detalhes. As fotos que vemos coloridas nos murais – acredite – não são fotos, são desenhos. Tudo é desenho, com uma riqueza impressionante de detalhes.
Nessa obra da parede é possível ver de perto cada risco, cada ranhura, cada esfumaçado que, um pouco mais de longe, parece uma fotografia. O último passo é pintar a imensa tela, seguindo à risca as cores de cada quadradinho. Não se impressionou? Pois saiba que a versão final de “The Future is Now” mede 14×24 metros e está em frente ao prédio da ONU, em Nova York.

Mais do que exibir obras de arte, o ateliê é um símbolo da paixão de Kobra pela arte acessível — aquela que se impõe nas ruas, nos muros, para ser vista por todos, sem barreiras ou convites formais. Kobra não pinta apenas para embelezar espaços, mas para provocar reflexão, emocionar e contar histórias que muitas vezes não têm voz.
Seus murais são manifestos visuais que sempre carregam mensagens de paz, respeito, preservação da memória e justiça social, paz, resistência, crise climática, racismo, desigualdade, proteção dos animais, liberdade, amor e tantos outros, tão importantes e constantemente esquecidos. E na rua, sempre na rua.

Mas por que alguém faz uma obra de arte que não pode ser guardada? Não pode ser vendida? Que está condenada a, em algum momento, desaparecer? Em um mundo totalmente voltado ao dinheiro, isso não parece fazer sentido.
Mas o amor de Kobra pela arte de rua não é apenas técnico — é ideológico. Ele acredita na rua como galeria aberta, um espaço democrático onde todos, sem qualquer distinção, têm acesso à beleza, à reflexão e à provocação artística. E esse é seu jeito de tornar o mundo mais humano e mais bonito.
Ateliê Eduardo Kobra – Rua Padre Bartolomeu Tadei, 9 – Itu/SP