RESERVA CULTURAL
Há poucos lugares em São Paulo que oferecem uma experiência tão completa e sensível quanto o Reserva Cultural. Se é que há algum. Não se trata apenas de ver filmes, mas de viver o cinema. É o ritual: chegar antes da sessão, tomar um café, cruzar olhares com outros frequentadores silenciosos, partilhar uma atmosfera que celebra o pensamento e a arte. Um lugar que reacende aquele nosso orgulho de ser paulistano, que já nem lembrávamos que tínhamos.

Antes do “Reserva”, esse local abrigou o cine Gazetinha. Inaugurado em 1967, ele era o mais “artístico” dos cinemas do prédio da Fundação Cásper Líbero, no coração da Avenida Paulista.
Como todos os cinemas de rua, começou entrar em declínio nos anos 80, mas ainda lembro de assistir ali ótimos filmes lá por 89, 90, quando fazíamos faculdade na Cásper, logo ali em cima. Vimos ali “Sociedade dos Poetas Mortos”, “The Doors” e muitos outros. Depois a crise foi se agravando e o Gazetinha fechou suas portas em 1999, deixando uma sensação de despejo nos sonhadores da Paulista.

Mas como todo bom roteiro, essa história tinha um segundo ato. Em 2005, o imóvel renasceu como Reserva Cultural, pelas mãos visionárias de Jean-Thomas Bernardini, da distribuidora Imovision. E o que um dia foi bom, tornou-se bem melhor: o cinema virou um centro cultural vivo, um verdadeiro oásis para quem ama arte, gastronomia e boas conversas.
Nestes 20 anos de Reserva Cultural, assistimos à transformação de um espaço histórico em um complexo vibrante e acolhedor. As quatro salas de cinema, com programacão sempre primorosa, deram palco a estreias internacionais, mostras autorais, debates com cineastas e festivais como a Mostra Ecofalante, o Festival Varilux de Cinema Francês e É Tudo Verdade, além de eventos notáveis como pré‑estreias com Francis Ford Coppola, Catherine Deneuve e Audrey Tautou, entre outros.

E se cinema já era motivo suficiente para voltar sempre, o Reserva Cultural ampliou o encanto. Em seu espaço térreo, encontramos o Bistrô Reserva, com toques da culinária mediterrânea, perfeito para um jantar à luz baixa depois de um bom filme. A padaria Pain de France completa a experiência com seus pães artesanais e croissants de respeito, que disputam nossa atenção com a livraria ao lado. Tudo pensado para que o visitante se sinta em casa, sem pressa, como se o tempo se expandisse dentro daquele universo paralelo.
Neste mês de junho, especificamente para a comemoração dos 20 anos do Reserva, esses espações trarão – só para se ter uma ideia – uma seleção de pratos como paillard de mignon com risoto de limão siciliano, risoto de salmão ao vermuth, suprême de frango camponês e outros que é melhor nem mencionar. Mas quem não puder ir agora não precisa se frustrar, porque o alto nível é o mesmo em qualquer outra ocasião.

Vale destacar duas curiosidades:
1) Em seus primórdios, o espaço não vendia pipoca; os clientes só tinham acesso aos famosos croissants franceses da boulangerie. Somente após 2021 – quando uma pesquisa com seus clientes revelou a preferência – o cardápio passou a incluir pipoca salgada e doce.
2) A impressionante parede de vidro com vista para a Avenida Paulista, que hoje encanta o público, foi cuidadosamente importada da Bélgica para garantir que mesmo o ruído da metrópole não comprometesse a experiência audiovisual.

Ao completar 20 anos nesse dia 11 de junho de 2025, o Reserva Cultural segue sendo um farol na cidade. Um lugarzinho onde a poesia ainda cabe, onde o som de uma sala escura prestes a se iluminar ainda emociona. P
ara os apaixonados pela cultura e pelo cinema, ele segue sendo o que o Gazetinha foi um dia: uma casa. Só que com mais sabor, mais luz e mais memórias.
RESERVA CULTURAL – Av. Paulista 900, Bela Vista, São Paulo/SP