BAR AMIGO GIANOTTI
Um provérbio italiano afirma que “felicidade é: pão, amor e vinho”. Deve ser verdade. Para os italianos, principalmente, pois não há como negar que se trata de um povo simpático, festeiro e que gosta muito de comida.
Exemplo maior disso tudo é o senhor Antonio Gianotti, imigrante da “Velha Bota” que no início dos anos 70 resolveu montar no Bexiga um boteco com jeito de cantina, onde pudesse atender e conversar pessoalmente com a freguesia enquanto a empanturrava de cerveja gelada e boa comida. O nome do bar não poderia ser mais apropriado: Amigo Gianotti.
Para montar o bar, o hoje mais que nonagenário senhor escolheu aquela que provavelmente foi a menor casa que encontrou, e que já devia estar por lá antes mesmo de inventarem o Bexiga, embora o gesso da fachada com as cores italianas indique que sua construção seja de 1910.
E para completar decorou-o do modo mais confuso que se pode imaginar, misturando coisas como santinhos do Getúlio Vargas e broches da “vassourinha” de Jânio Quadros com camisetas de outros bares, a camisa da “Squadra Azurra” campeã de 2006 e um enorme jacaré empalhado.
Nada disso, nem o fato de o bar abrir bem depois da maioria dos outros, impediu que o minúsculo boteco se tornasse ponto de partida, de passagem ou de chegada para baladeiros ou para a moçada da região, que o lota madrugada adentro, espalhando mesas pela calçada para curtir a Bela Vista. O motivo? Simpatia, cerveja gelada e comida boa, muito boa…
O boteco andou participando (e sendo premiado) de alguns concursos graças a petiscos como o Croquenotti – um croquete feito com massa de nhoque recheado com provole e parmesão – o Bolinotti – bolinho de lingüiça calabresa curada com ricota, empanado com macarrão cabelo-de-anjo – e o Bolinho da Nona – um bolinho de carne cozido na cerveja preta envolto empanado em uma massa com um mix de castanhas.
Mas as estrelas da casa são mesmo as fogazzas. Não confunda com a focaccia, espécie de pão recheado assado, originário da Ligúria. A napolitana fogazza é uma espécie de pizza frita, na forma de um imenso pastel, que ali podem ser devoradas em tamanho gigantesco, com 12 recheios diferentes, que misturam ingredientes como mussarela, calabresa, atum, frango, provolone, pepperoni e outros, todas fartamente recheadas, listadas verbalmente pelo próprio Gianotti e seus descendentes, já que tudo é tão pessoal que a casa fica aberta quase até de manhã e não tem um cardápio escrito.
Luís Fernando Veríssimo diz que a cozinha italiana é, no fundo, um pretexto para reunir a família à mesa o maior tempo possível, o que explica um pouco a constante fartura e a visível felicidade no rosto das pessoas.
Neste boteco de alma italiana ela é motivo para passar horas muito agradáveis batendo papo com os amigos, tomando cerveja geladíssima e ouvindo as deliciosas histórias do sr. Antonio, seu filho Savério e seu neto Toni Gianotti, que passam a noite de mesa em mesa distribuindo simpatia e bom humor.