BRAZILIANDO (Rio de Janeiro/RJ)
Com o objetivo de inspirar e promover avanços nas discussões e práticas sobre turismo responsável e sustentável no Brasil, o Ministério do Turismo – MTur e o Centro de Estudos de Turismo e Desenvolvimento Social (CETES/USP) lançaram o livro “Turismo Responsável: resultados que inspiram”, de autoria de Marianne de Oliveira Costa, Ana Rosa Proença, Karina Toledo Solha e Gustavo Pereira Pinto. Elaborado pelo Instituto Vivejar, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, o livro reúne 10 exemplos de iniciativas comprometidas com um turismo de impactos positivos em território nacional. Uma delas é o Braziliando, cuja matéria reproduzimos abaixo.
Mas independentemente de ler esse trecho aqui no Lugarzinho, vale a pena demais você ler o restante do livro, que traz todas as iniciativas selecionadas e um amplo contexto em que nasce e se desenvolve o movimento do Turismo Responsável, além de muitas dicas de como empresas, destinos, organizações e viajantes podem começar a colocar a responsabilidade em prática e motivações para serem adotadas durante o processo. Divirta-se!
BRAZILIANDO (Rio de Janeiro/RJ)
“Quando uma viagem em família inspira o nascimento de um negócio de impacto do turismo”.
A Braziliando é uma agência de Turismo Responsável que nasceu em 2016, voltada para estrangeiros que queriam vivenciar o Rio de Janeiro como e com moradores locais. Em 2017, as sócias – Ana Taranto e Tereza Taranto (filha e mãe) – realizaram uma viagem para a Amazônia em que se conectaram com o local e com as pessoas. A partir daí, foram promovidas grandes transformações, inclusive na trajetória da Braziliando, que passou a atuar na região com volunturismo e TBC.
Num primeiro momento, a Braziliando começou com uma expedição de volunturismo, o Amazoniando. A partir dessa expedição, passou a ajudar na estruturação da experiência turística com uma comunidade indígena e a facilitar a conexão de viajantes com a comunidade, buscando valorizar as tradições locais e gerar oportunidades para os comunitários.
Desde o início de sua atuação, a empresa foi se reformulando e, atualmente, se identifica como um negócio de impacto do turismo. Tem como propósito gerar transformações positivas através de experiências que sejam autênticas e responsáveis, a partir das seguintes premissas:
• Transformações positivas: tanto para quem participa das experiências quanto para as comunidades ribeirinhas e indígenas parceiras.
• Autêntica: o participante pode vivenciar a realidade local com os comunitários.
• Responsável: sempre com o olhar para o impacto ambiental, social e econômico gerado.

Esse posicionamento está presente não só nas falas, mas também no site, nas mídias sociais e nas comunicações envolvendo a Braziliando – o que já é uma inspiração, visto que muitos negócios de impacto do turismo “são e não se reconhecem; fazem e/ou geram impacto positivo, mas não medem e não divulgam.”
Esse propósito bem definido também se reflete na construção de projetos e experiências, na comunicação com os viajantes e na divulgação nas redes sociais: o objetivo é sensibilizar quanto à realidade das comunidades e inspirar um estilo de vida mais sustentável, mais simples e mais conectado com a natureza, por meio das vivências que oferecem.
E todo esse contexto reflete no público que busca a Braziliando. Em geral, são pessoas alinhadas com o propósito da empresa e que procuram experiências mais genuínas, fora do roteiro padrão do turismo, do turismo de massa, daquela coisa superficial, de só passar e bater uma foto – o que é muito comum na região do Amazonas, onde a empresa atua.
“Então, são pessoas que querem conexões mais verdadeiras, imersões mais profundas, são pessoas – não todas, mas boa parte – que querem participar dessa mudança social” (Ana Taranto).
Para dar conta do dia a dia da Braziliando, além da Ana e da Tê (como é carinhosamente chamada por todos), em 2023 a equipe contava com mais três pessoas trabalhando em tempo parcial, cada uma num canto do Brasil, nas áreas de comunicação, gestão operacional e apoio administrativo-financeiro.
Desde o início da empresa até 2023, a Braziliando já atuou com cinco comunidades tradicionais no Amazonas (indígenas e ribeirinhas) e uma no litoral de São Paulo, duas experiências presenciais e quatro online. Atuam com uma comunidade indígena Baré, no interior de Manaus, com experiências turísticas baseadas no cotidiano da comunidade – o roteiro Amazônia Baré. Possuem a premiada iniciativa Conexão Baré – uma vivência online, interativa e inclusiva que acontece em tempo real por meio de videochamada, criada durante a pandemia. Ambas as experiências citadas são realizadas por meio da parceria com a Comunidade Indígena Nova Esperança, principal parceira da agência.

Para firmar uma parceria, as sócias vão pessoalmente conhecer a comunidade, as pessoas e as possibilidades de roteiros e alinhamento entre os propósitos da empresa e os da comunidade. Para o processo de construção de experiências, acordos são firmados entre as partes, que discutem:
1. Quais atividades vocês gostariam de trazer para essa vivência?
2. Quanto tempo vocês gostariam que ela durasse?
3. Faz sentido essas pessoas dormirem aqui, ou não?
4. Onde elas deveriam dormir?
5. O que vocês consideram um valor justo para remunerar as pessoas que estão envolvidas?
6. Alguma parte desse valor deve ir para a comunidade como um todo?
7. Vamos fazer um caixa comunitário?
8. Qual vai ser o valor do caixa comunitário?
9. Quais vão ser as regras que os viajantes terão que seguir enquanto estão aqui?
10. O que pode impactar na cultura e na natureza?
11. Quantas vivências vocês querem que aconteçam?
12. Qual o número ideal de viajantes por vivência, para minimizar esse impacto na vida de vocês?
Após todo o processo de validação e construção conjunta, os riscos e as mitigações de impactos são considerados para uma avaliação geral. As experiências criadas também passam por um processo de validação no mercado, para entender se são um produto turístico que faz sentido. Para aprimorar a experiência criada e ofertada, cada viajante é incentivado a responder uma pesquisa de satisfação bem completa, enviada após a vivência. Tanto os retornos positivos quanto as sugestões de melhorias são passados para o grupo que trabalha com o turismo, visando celebrar as conquistas e ajustar os pontos necessários.
Para conseguir se organizar com a comunidade, a empresa possui pontos focais de contato, as Coordenadoras de Turismo: uma pessoa que é Coordenadora do Turismo Presencial e outra que é Coordenadora do Turismo Virtual. Ambas, comunitárias, estão em um grupo de WhatsApp para facilitar o contato, além de realizarem reuniões por videochamada e participarem das experiências presenciais na comunidade. Com essas representantes, são tratadas pautas como ajustes de valores e remuneração, entre outras.
Atualmente, o principal impacto da empresa é na geração de renda. A renda direta gerada é registrada, demonstrando quanto foi para a comunidade e para o caixa comunitário. Além desse, outro formato para demonstrar o impacto social gerado são os depoimentos de comunitários, em que a valorização da cultura e dos saberes indígenas é recorrente nas falas. As transformações causadas nos viajantes pela vivência imersiva na comunidade também aparecem nas pesquisas de satisfação e nos depoimentos realizados.
Os impactos gerados são compartilhados na aba “Impacto” do site da Braziliando, nas redes sociais, em lives, em newsletters e nas apresentações institucionais. Além disso, já foram divulgados pelo Ministério do Turismo. A empresa possui, ainda, o compromisso de não ter nenhuma atividade envolvendo animais silvestres e tem parceria com a World Animal Protection Brasil.
Foi desenvolvido também um Manual do Viajante, que é enviado para os clientes tanto nas vivências online como nas presenciais, com uma série de informações sobre a comunidade, a questão indígena, as regras de conduta definidas junto com a comunidade, as práticas para evitar impacto ambiental (por exemplo, não interagir com animais silvestres e não levar plantas ou sementes do local), buscando sensibilizar esse viajante sobre o local, as pessoas e a cultura que encontrará.
Em relação a ações prioritárias para o Turismo Responsável, a Braziliando aponta a necessidade de um olhar atento para além dos aspectos ambientais. É importante verificar quem são os fornecedores, quais são as práticas, como é a gestão da segurança nas atividades, como é a gestão dos resíduos sólidos, se há remuneração justa para todos os envolvidos, se há uma constante avaliação do trabalho realizado, se a cultura organizacional está refletindo os valores que a empresa quer passar por meio das experiências, e claro, se há sustentabilidade financeira.
Esta última é o principal desafio apontado pela Braziliando para que todo esse propósito, esses valores e essas vivências se mantenham rentáveis para ambos os lados – empresa e comunidade – e para que o trabalho realizado até o momento se mantenha de pé, remunerando todos de forma justa.
O trabalho que a empresa vem fazendo foi indicado ao “Prêmio Nobel Verde” (United Earth Amazonia Award), que elegeu iniciativas comprometidas com o ESG, sendo a Braziliando uma das premiadas – e recebeu o troféu com a presença de indígenas da comunidade parceira para compartilhar o momento da premiação. Em 2022, foi vencedora do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade e do Prêmio de Turismo Responsável da WTM Latin America. Para a premiação da Braztoa, a Braziliando elaborou um vídeo que relata o trabalho que vem fazendo.
É visível, nas redes sociais, no site, em materiais e em entrevistas, que a empresa sempre se posiciona como uma agência de Turismo Responsável, o que facilita a busca de viajantes e parceiros por agências de turismo neste perfil.
O que aprendemos com o caso da Braziliando?
O modelo de negócio e os valores da empresa balizam toda a construção da experiência, as relações com parceiros e fornecedores e a comunicação com o público.
Trabalho e diálogo são realizados em conjunto com a comunidade, buscando sempre o alinhamento entre comunidade e empresa.
Remuneração justa para todos os envolvidos.
Reconhecimento como empresa de Turismo Responsável e como negócio de impacto do turismo.
Identificação de seus impactos e suas realizações para se inscreverem e participarem de prêmios do setor e afins.