O GATO QUE RI
Texto do livro “50 restaurantes com mais de 50 – 5 décadas da gastronomia paulistana”, de Janaína Rueda e Rafael Tonon
Logo na entrada, o quadro do gato dentro de uma cesta de vime sorrindo para quem adentra o salão rústico e aconchegante parece ser uma prerrogativa de que a refeição servida ali vai proporcionar bons momentos de hedonismo gastronômico a quem se sentar em uma das mesas coberta com toalha branca engomada desse restaurante localizado no Largo do Arouche. Talvez seja essa a sua função, reforçada por outras figuras de gatos sorridentes por todos os lados, do guardanapo de tecido a uma estante cheia deles, bem acompanhados dos vidros de pimentas feitas na casa. Mas O Gato Que Ri é o nome da cantina fundada pela italiana Amélia Mazotti Montanari, ou Dona Amélia, como era conhecida. Por isso a fotografia na porta.

O pressuposto do espaço, inaugurado como um balcão de pedra com banquinhos sem encosto em sua volta, era servir massas caseiras preparadas por ela, recém-chegada da região do Vêneto para morar em São Paulo. Decidiu fazer aqui no Brasil o que fazia de melhor na Itália: cozinhar. O macarrão já tinha aportado aqui antes, com as ondas imigratórias entre 1860 e 1920: primeiro feito apenas artesanalmente, depois de maneira industrial, com a inauguração em 1896 da Premiato Pastificio Italiano, a primeira produção em larga escala no país. Mas a pasta feita pelas mãos de Dona Amélia ganhou fama para além do Arouche, e os clientes lotavam o pequeno espaço, em que ela trabalhava com o marido, Seu Jacinto. Eram sucesso absoluto a lasanha verde acompanhada de salada de carne fria com verduras e as massas longas, como o tagliatelle e o espaguete com molho bolonhesa ou sugo.
Com a morte da fundadora, a qualidade do restaurante decaiu, até que um grupo de empresários resolveu comprar o espaço em 1992, realizar uma reforma e alterar itens do cardápio – que hoje conta também com carnes, sopas, pizzas e até feijoada nos almoços de quinta e sábado. Nas mãos dos novos donos, o restaurante recuperou o fôlego, apostando nas combinações clássicas, principalmente de massas, para servir os clientes. São 8 tipos de massas frescas com combinações de mais de 20 tipos de molhos e preparações para acompanhá-las, entre bolonhesa, berinjela com gorgonzola, romanesca, bacalhau com azeitona e sugo com braciola. Isso sem contar os risotos, os peixes, a bruschetta, o carpaccio, o galeto desossado…

Entre as sobremesas, já não figura mais o pudim de leite condensado com chantili da Dona Amélia, mas há doces caseiros e creme de papaia, como nos endereços mais reconfortantes e tradicionais. O clima é mesmo de casa da com mesa farta, salão barulhento, gatinhos de porcelana bem arrumados nas prateleiras. Na saída, há uma vitrine com souvenirs do restaurante à venda: canecas, camisetas, chaveiros, calendários, sempre com a figura do gato-símbolo a sorrir. Para lembrar que, mais que um jantar, uma visita ali é mesmo um programa.
O GATO QUE RI – Largo do Arouche, 37/41 – República, São Paulo. Tel: 3331-0089
O livro traz, na sequência, a receita da Lasanha verde do Gato Que Ri. Mas, nesse caso, só no livro mesmo, ok?