PAGANINI & PALERMO (Espírito Santo do Pinhal/SP)
A parte mais legal de fazer matérias para o Lugarzinho é se perder por aí e conhecer pessoas legais que nos levam para conhecer outros lugares, igualmente especiais, e que jamais conheceríamos porque não estão nos roteiros, mas somente nas conversas de prosa em prosa, de amigo para amigo.
Foi assim que o Adriano, a Juliana, a Andréa, a Manu e a Juju nos levaram para tomar “café colonial na roça”, em um lugar já nas beiradas de Espírito Santo do Pinhal, entre infinitas montanhas e cafezais, e defronte ao Santuário de Santa Luzia.
O Paganini & Palermo é uma adorável criação do casal Lurdinha e Adriano (infelizmente falecido há alguns anos), simpático e talentoso casal que resolveu compartilhar suas saborosas criações no sítio da família, adaptando o necessário para acomodar uma meia dúzia de mesas e a bancada de comidinhas e bebidinhas, mas mantendo o resto como sempre foi. As árvores, os cafeeiros, o galinheiro e até os cachorros estão todos lá, para quem quiser aproveitar.
O Santuário
A história do Santuário remete ao início do século XX, quando D. Chiquinha Ramos, esposa do tenente-coronel Vicente Gonçalves da Silva, proprietário das terras do bairro todo, passou a ajudar colonos e conhecidos que tinham problema na vista. Nesse intuito, trouxe da Itália (não se sabe se por encomenda ou presente de parentes), uma imagem em tamanho natural de Santa Luzia, para a qual construiu uma pequena capela, onde cabiam cerca de 30 pessoas em pé, e que teve sua primeira missa no dia da “Santa dos Olhos”, em 13 de dezembro de 1910.
Como a data se tornou motivo de uma festividade cada vez mais popular na região, uma nova igreja, maior e mais confortável, foi inaugurada no local em 1960. A singularidade da comemoração está no fato de Santa Luzia não ser padroeira da cidade, e mesmo assim ter a festa religiosa de maior expressão na região, tornando o 13 de dezembro feriado municipal desde 1995.
O Café Colonial
Tudo bem que a ideia inicial era aproveitar a vizinhança do Santuário para oferecer aos romeiros um local agradável para comer e descansar. Mas aí muita gente da cidade descobriu o espaço e resolveu adotá-lo como um programa especial para se curtir de quando em quando.
O esquema é básico: paga-se um valor fixo por pessoa para ficar o tempo que quiser por ali e se servir à vontade de tudo que houver sobre a mesa. Como dizia meu tio Benedito, sábio apreciador dessas brejeirices da vida, “é aí que começa o problema”…
Sobre a mesa só tem coisa boa: pães, broas, bolo de chocolate com café, bolo de milho, bolo de limão com gengibre, bolo de fubá com goiabada, mel, coalhada fresca, frutas variadas, manteiga, geleias feitas ali mesmo, leite recém tirado da vaca, pães de queijo e mais pães de queijo, café fresquinho…
A gente acaba comendo devagarinho, saboreando junto com a paisagem, e levantando uma, duas, três, várias vezes para pegar mais e continuar a prosa – que vai ficando mais gostosa e acolhedora com o passar despercebido das horas.
Enquanto ficamos ali, pensei um pouco na história – terrível – de Santa Luzia, que, martirizada, chegou a arrancar seus próprios olhos e oferece-los a seus algozes numa bandeja, afirmando que a verdadeira beleza não se vê com os olhos, mas sim com o coração.
Dá para sentir um pouco dessa paz, dessa fé, nesse passeio. Enquanto continuamos o papo, Chico e Maria Julia – até então bem pequenos – se divertem entre os brinquedos e os bichos. E lembro de um trecho da oração que pede à Santa Luzia: “Conservai a luz dos meus olhos para que eu tenha a coragem de tê-los sempre abertos para a verdade e a justiça, possa contemplar as maravilhas da Criação, o brilho do Sol e o sorriso das crianças”.