PRAIA DO IPORANGA (GUARUJÁ/SP)
A Praia do Iporanga: um paraíso reservado… mas para quem?
Com o calor escaldante que cada vez mais vem tomando conta de São Paulo, nada soa mais tentador do que um dia de descanso à beira-mar. Entre as praias do Guarujá, a Praia do Iporanga se destaca como um verdadeiro paraíso: areia branca, mar cristalino e um toque mágico que a torna única – uma pequena e bela cachoeira que deságua diretamente no mar, criando uma mistura de águas doces e salgadas que encanta qualquer visitante.
Mas aqui vai o detalhe curioso – e, talvez, provocativo: este paraíso natural está localizado em um condomínio particular com o mesmo nome da praia, e o acesso é limitado. Isso significa que, se você quiser conhecer o local, que dispõe somente de cerca de 35 vagas de estacionamento, precisará chegar bem cedo – e estar disposto a competir com outros turistas pelo privilégio de entrar.

O acesso à praia inclui descidas e subidas íngremes, que podem ser desafiadoras, mas também fazem parte da aventura para chegar a esse destino exclusivo.
Dentro do Condomínio Iporanga há ainda outras duas praias que merecem atenção. A Praia das Conchas, menor e acolhedora, é especialmente procurada por famílias com crianças, já que uma piscina natural se forma na beira do mar, permitindo banhos tranquilos. Já a Praia São Pedro, com sua faixa de areia mais extensa e ondas vigorosas, é o destino favorito dos surfistas. Cada uma oferece experiências distintas, mas todas compartilham a mesma essência: natureza preservada e um acesso cuidadosamente controlado.

Além de suas praias deslumbrantes, iniciativas de preservação ambiental e sustentabilidade se destacam entre as ações promovidas no condomínio. O local desenvolve projetos de reflorestamento, tratamento de esgoto e recuperação da vegetação nativa. Para quem ama a natureza, há ainda um orquidário e um jardim encantador onde várias espécies de borboletas podem ser observadas, ambos abertos à visitação. Essas atitudes mostram uma preocupação genuína com o meio ambiente, mas será que são suficientes para justificar a exclusividade de acesso?

Embora tais esforços de conservação sejam inegavelmente valiosos, não deixam de trazer à tona uma questão essencial: até que ponto é justificável que uma área tão grande – estamos falando em 821 mil m² de Mata Atlântica – e tão rica em belezas naturais seja mantida de forma privativa? Afinal, praias são bens públicos por definição no Brasil. Não deveríamos buscar formas de aliar conservação e acessibilidade para que mais pessoas pudessem se maravilhar com lugares como este?

Quando de folga, de férias ou simplesmente no dia em que estiver livre e desimpedido, se você for um dos sortudos a conquistar um lugarzinho nesse refúgio exclusivo, aproveite cada segundo. E, ao encarar as trilhas íngremes, admirar o jardim das borboletas ou se refrescar na cachoeira que encontra o mar, que tal refletir sobre o papel que todos nós desempenhamos na preservação – e na democratização – de nossas encantadoras paisagens?