Pedro Schiavon | 18/07/2023 | 0 Comentários

BAR DO MARCELINO (Campinas/SP)

Eu tenho um amigo “furão”. Sabe esses caras com quem você vive tentando marcar alguma coisa, mas na última hora sempre aparece alguma coisa que o impede de ir? É assim desde que ele se mudou de São Paulo. E não adianta nem tentar marcar na cidade dele, pois ele não poderá estar lá naquele dia. Pois é.

Mas uma coisa eu tenho que admitir: o cara tem bom gosto. E é por isso que, quando recebo suas indicações, acabo seguindo cega e despreocupadamente.

Foi assim que eu fui parar no Bar do Marcelino, em Joaquim Egídio, um simpatissíssimo vilarejo de Campinas, com suas ruas de paralelepípedo, repleto de trilhas e de ótimos bares e restaurantes.

O bar parece ser o ponto central da cidade, para onde tudo converge. Sua fama se espalha por toda a região e os motivos não são poucos.

Tradição não lhe falta. O delicioso casarão do século XIX já foi, em seus primórdios, um armazém de secos e molhados (como parece ser a origem dos melhores botecos mencionados neste blog). Depois, por 45 anos, foi o Bar do Sr. Rubens. Foi ainda o Bar do Said e o Bar do Múcio, até receber seus atuais nome e proprietário em outubro de 1988.

Jaime Marcelino Pissolato nasceu em cresceu em Sousas, a vila vizinha, e sempre circulou por Joaquim Egidio, fosse na infância para jogar bola ou mais tarde passeando de moto ou frequentando os três botecos então existentes por ali. Frequentou tanto que um dia foi chamado pelo Múcio para “dar uma mãozinha” na cozinha e não saiu mais de lá, esticando até hoje o que chama de “a mãozinha mais longa que já deu em sua vida”.

Charme também não falta ao local. Ele começa na calçada, onde a casa espalha diversos caixotes de madeira onde os clientes se acomodam enquanto aguardam por suas mesas.

Ali só se servem bebidas e porções – como as deliciosas batatas, o crocante bolinho de mandioca com carne seca ou a exótica pimenta dedo-de-moça empanada recheada com carne moída – mas o clima costuma ficar tão agradável e divertido que muitos clientes acabam dispensando a mesa e ficando por ali mesmo.

A história dos já famosos caixotes começou porque não era permitido colocar mesas do lado de fora do bar, mas caiu nas graças do público, que hoje não os troca por mesa alguma.

Mas é lá dentro que vem a melhor parte: a comida, bem caseira, bem brasileira. Você pode escolher entre uns 30 pratos diferentes, todos deliciosos e fartos, que servem umas 3 ou 4 pessoas, como o tutu à moda, que vem com costelinha de porco, banana à milanesa, farinha, ovos, linguiça, vinagrete e farinha, ou o contrafilé acebolado com arroz, feijão, farinha e legumes na manteiga ou ainda uma bisteca, com esses mesmos acompanhamentos. A turma acompanha a onda com cervejas e caipirinhas, além de algumas doses de cachaça tirada do próprio barril.

Às quartas, sábados, domingos e feriados a estrela da casa é a feijoada. Ela começa a ser feita ainda de manhã para que a costelinha, a carne-seca e o paio possam ser aferventados três vezes antes de serem adicionados ao feijão temperado com alho, cebola, sal e bacon. É servida com arroz, linguiça, couve, vinagrete e farinha e daria para 3 ou 4, não fosse tão boa e forçasse todos a testarem seus limites.

Depois disso, quem ainda consegue achar espaço para uma sobremesa, o bar/restaurante ainda dispõe daquelas sobremesas bem caseiras, com gosto de casa da avó da gente, como os deliciosos doces de abóbora com coco ou o figo em calda.

A sorte é que quando você consegue se levantar tem em volta uma cidade que convida ao passeio, à caminhada sem pressa, sem propósito, sem lembranças e sem nenhuma saudade da metrópole. Um vilarejo igualzinho ao da Marisa:

“Lá o tempo espera. Lá é primavera. Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em todas as mesas, pão. Flores enfeitando os caminhos, os vestidos, os destinos e essa canção. Tem um verdadeiro amor para quando você for”.

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