BAR DO PLÍNIO
Plínio é um cara que gosta de botecos, de boa comida e de pescaria. Tá, já sei: ele e mais uns 100 milhões de brasileiros. Só que tem alguns detalhes que o diferenciam dos outros 99.999.999.
Primeiro: ele montou o próprio boteco em uma grande casa verde (que agora é azul e branca) na Casa Verde, onde recebe amigos e desconhecidos com a mesma alegria para um bate-papo regado a cervejas e quitutes variados.
Segundo: o Bar do Plínio é um dos raros (se não for o único) botecos especializados em peixes em São Paulo – e o termo “especializado” empregado aqui não é nenhum exagero, pois as opções são muitas e todas preparadas com tamanho esmero que fica difícil escolher.
Terceiro: Plínio é pescador, filho de pescador, tem “alma” de pescador e vai pessoalmente ao Pantanal várias vezes por ano para pescar os peixes que serve no bar. São pacus, dourados, pintados, traíras, tucunarés etc. Fora os que vêm dos lugares mais diversos, como o pangasius, que aqui já virou pangassu, que vem do Vietnã!

A história começou num momento específico – um agradável fim de tarde do final dos anos 70, quando Plínio ainda trabalhava numa empresa multinacional e resolveu passar um agradável happy hour no Valadares, clássico bar da Lapa, frequentado por ele naquela época.
A coisa toda lhe pareceu tão boa que ele teve uma ideia: montar seu próprio bar. Se o intuito era ganhar dinheiro, ter um lugar para reunir a turma ou simplesmente não ter que ir embora do bar, não vem ao caso. O fato é que, com a ajuda da esposa Rose, ele montou, em 1980, um dos lugarzinhos mais interessantes e agradáveis da cidade.
Trata-se de um bar de esquina, com mesinhas na calçada, um atendimento pra lá de camarada, decoração com temas de pesca e fotos de convidados, um grande aquário com peixes bem exóticos, chopp e cerveja, sucos dos mais diversos tipos, e porções que não existem em lugar nenhum. Só lá.

E uma grande contribuição para esse clima descontraído está na sua localização, em uma rua tranquila, de fácil acesso e sem dificuldades para estacionar no bairro da Casa Verde, assim chamado devido a cor da casa-sede do “sítio das moças da casa verde”, que eram – antes que alguém pense mal das meninas – as filhas do Sr. José Arouche de Toledo Rendon, proprietário do lote onde hoje está o bairro inteiro.
Finda a história, passemos à mesa. O bar tem algumas opções “comuns”, como batata frita, bolinhos de bacalhau, tábuas de carnes e de queijos, mandioca etc, mas as “incomuns” é que chamam a atenção.
Algumas delas participaram do concurso Boteco Bohemia, como a de tucunaré com palmito e alcaparras e as inusitadas “U… Quihá do Play” (com Filezinhos de Tilapia enrolados com bacon, provolone e uva passa) e a “Bicho Bão” (uma espécie de guioza com camarão, salmão, palmito, cream cheese), considerada uma das melhores receitas do festival.

Mas a especialidade mesmo são os peixes e frutos do mar, normalmente servidos em “trios” numa canoazinha de madeira e que abastecem um bom número de famintos. Há opções como o “Trio de frutos do mar” (camarão, lula e marisco), “Trio do Pantanal” (pacu, tilápia e dourado) e outros, além dos trios que você mesmo monta escolhendo entre aruanã, tambaqui, anchova negra, salmão, pintado, cação, meca e tantos mais.
A nós, só resta sentar, tomar alguma coisa e provar. E torcer para a pesca ser boa.
“Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser, quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer. Meus companheiros também vão voltar e a Deus do céu vamos agradecer”.
(Dorival Caymmi).