Pedro Schiavon | 11/08/2023 | 0 Comentários

BAR DO VITO

Não espere mesinhas de mármore, copos estilosos ou petiscos da moda. O Bar do Vito é um típico “pé sujo”, daqueles que parecem estar sumindo do mapa, frequentado basicamente pelos homens do bairro, que ali se encontram para tomar alguma coisa e botar o papo em dia.

Também não espere qualquer formalidade, garçons atendendo às mesas, cardápios personalizados ou uma moçada descolada disputando as cadeiras do bar. Tudo ali é pra lá de informal, tratado diretamente no balcão e resolvido com o próprio dono ou qualquer atendente de plantão.

No entanto, há coisas ali que você não encontrará em nenhum outro lugar da cidade, como as sardinhas curtidas na salmoura, a porção de pepino azedo e, principalmente, o Virtiniai – um ravióli lituano recheado com carne ou queijo e coberto com molho de tomate – e a Koshilenai – uma saborosa geleia de carnes de boi e de porco, guarnecida com mostarda escura e pão francês.

Ocorre que a Vila Zelina se tornou, lá pela década de 30, um reduto de imigrantes lituanos, que deixavam um país em crise pela busca de novos horizontes, principalmente nas plantações paulistas de café. Assim, muitos acabaram por se instalar na própria capital, exatamente ali naquela região, então uma vila que começava a ser loteada e que até hoje permanece um dos cantinhos mais tranquilos da cidade.

Um desses imigrantes foi Vitautas Tunnelis, o Vito, que em 1942 resolveu montar seu bar bem no coração do bairro, tornando-se não apenas um ponto de encontro dos imigrantes, mas também um centro de divulgação de sua cultura e sua gastronomia.

Ali, desde os primórdios, reuniam-se os recém-chegados do país báltico e mesmo o padre e o coral da igreja de São José, ícone do bairro, fundada pelos lituanos. E é claro que reuniam-se também, com eles, os brasileiros, curiosos com a novidade e bons apreciadores da nova cozinha.

É claro que a boa bebida ajudou bastante. Na casa, além das bebidas tradicionais, toma-se até hoje o Krupnikas, um fortíssimo licor lituano à base de mel, e o Zimbro, bebida criada por Fernando Tijunelis, filho de Vito, com receita não revelada à base da própria semente do zimbro, fruto que também serve de base para o gim.

Naturalmente, nessa parte de “boa bebida” há também goles mais suaves, incluída numa grande variedade de cervejas, incluindo aí garrafas lituanas que dificilmente você encontrará em outro lugar, como a Poter, e outras que talvez você nem consiga pronunciar, como a Svyturys Maksimuns.

A família de Vitautas Tunnelis – o já quase mitológico “seo Vito” cuidou de seu clássico boteco até 2005, quando passou o ponto aos atuais proprietários, Aurélio José Grigonis e Alexandre Sutkawicius, que cuidaram de manter as coisas como deviam ser.

As bandeirinhas e adesivos em homenagem à terra natal estão todos lá. O cardápio se mantém intacto. Tudo permanece como sempre foi, e os copos seguem cheios, esperando pelos clientes, que nunca tardam a chegar.

E como a Vila Zelina fica um pouco mais perto que a Lituânia, a dica é desarmar-se de qualquer preconceito, investir em seu lado mais aventureiro e ir conhecer um local único, com delícias de outro lado do mundo e com aquele espírito de confraternização que só se vê por aqui. Aproveite!

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