Pedro Schiavon | 21/07/2023 | 0 Comentários

FAZENDINHA BUTANTÂ

* Estabelecimento fechado

Eu não sei se com você acontece o mesmo, mas de vez em quando me dá uma vontade louca de fugir da cidade para o meio do mato. O problema é que, mesmo a vontade sendo forte, a disposição em obedecer-lhe é sempre muito fraca.

Para que isso não se torne um dilema, recorro a alguns lugares escondidos em São Paulo onde é possível passar algumas horas se sentindo – realmente – numa fazenda.

Não por acaso, um desses lugares chamava-se Fazendinha Butantã, um pequeno oásis incrustado num dos lugares mais movimentados do mundo: a avenida Corifeu de Azevedo Marques, no miolo do Butantã.

Sabe aquela história de que para chegar ao Paraíso tem que passar pelo Purgatório? Pois é. Para chegar até o Fazendinha, você tinha que passar pela Corifeu, não tinha jeito. Mas aí você logo entrava numa ruazinha discreta e, em menos de meio quarteirão, você já chegava ao seu destino.

O discreto portão funcionava como um portal daqueles de filme, transportando você para um universo paralelo. Do lado de lá há uma chácara silenciosa, com uma casa reformada como um amplo e aberto galpão de fazenda, um quintal repleto de árvores e até um galinheiro. O final do terreno dava para os fundos do Instituto Butantã e para a USP, o que explica tamanha vegetação e tranquilidade.

No meio disso tudo, uma cozinha com um fogão à lenha que funcionava à vista de todos e um restaurante bem simples, com mesas de plástico, toalhas de papel e um clima bem interiorano, cujos responsáveis eram a Gê, uma senhora mineira com grande talento para o fogão (redundância?) e o Arthur, seu marido, ex-funcionário de uma multinacional e apaixonado por motocicletas.

Foi nas reuniões caseiras com amigos, colegas de trabalhos e parentes que Gê começou a servir sua feijoada. Como a coisa fez sucesso, tornou-se semanal e aos poucos foi aceitando encomendas e abrindo para outros convidados, enquanto Arthur se virava fazendo as vezes de garçom.

Durante um bom tempo, o único ajudante que tiveram no restaurante foi do filho Luiz Arthur Cané, hoje um famoso lutador do MMA, também conhecido como “Banha”. Durante muito tempo ele alternou horas de trabalho no Fazendinha com outras de treinos de jiu-jitsu na academia de Ryan Gracie e de Muay Thai com a equipe Gibi Thai/Pamplona, dos lutadores Moisés Gibi e Eduardo Pamplona.

Mas não demorou para o sucesso se espalhar e a coisa crescer. As instalações tiveram que ser ampliadas. O Artur teve que deixar o emprego para doar mais tempo à nova empreitada, e Gê agora só supervisiona os funcionários de sua cozinha. Tudo com muito cuidado para não estragar o clima de “almoço de amigos no quintal de casa”.

A feijoada, servida às quartas e sábados, continuou sendo a estrela da casa, mas havia outras alternativas, com destaque para o nhoque de mandioca e a bela costelinha ao molho de ervas, servidos aos domingos. Completando o clima, um alegre grupo de chorinho alegrava as tardes dos frequentadores.

Se a sua ideia fosse fugir da confusão metropolitana por apenas algumas horas, este era o lugar. Cuidava-se apenas de definir bem seus horários e objetivos gastronômicos, pois o almoço acabava mais cedo que o normal da cidade e aí a casa fechava, reabrindo mais tarde como pizzaria. O que podia ser ainda mais interessante, afinal, quantas vezes você já comeu pizza na roça?

A Fazendinha fechou suas portas em 2020, vítima da pandemia.

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