Pedro Schiavon | 14/08/2023 | 0 Comentários

A BODEGA (Santo Antônio do Pinhal)

A primeira visão é assustadora: você entra no galpão e dá de cara com dois enormes balcões contendo 50 galões de vidro, cada um com mais de 40 litros de cachaça, um diferente do outro, quase todos com alguma fruta, planta, semente ou seja lá o que for dentro.

Assim que você assimila o golpe visual, os funcionários te apontam uma bandeja de copinhos para que você pegue um e prove tudo que você quiser – ou conseguir. E a menos que você seja um abstêmio muito, mas muito convicto, você provará algumas.

A culpa – ou os méritos – de tudo isso é do simpatissíssimo Sr. Ernesto Ferrari, que há tempos atrás resolveu montar em suas terras um local que fosse agradável, que produzisse algumas bebidas e que todos pudessem usufruir como um passeio especial.

Sua ideia inicial era produzir vinhos, mas, ao percorrer incontáveis feiras e eventos, colher informações das fontes mais diversas e conhecer pessoalmente centenas de produtores, inclinou-se para o lado das pingas.

A produção teve início no começo deste século, quando uma carreta vinda do Rio Grande do Sul descarregou dezenas de tonéis de carvalho na Fazenda Velha, possibilitando o devido armazenamento da pinga em escala comercial.

O Sr. Ernesto nos ensina que a cachaça dele é destilada durante os meses de agosto e novembro, por ser a melhor época para o corte da cana devido ao teor de açúcar adquirido nos meses de pouca chuva. Depois, ela é colocada em toneis de amendoim para descanso de no mínimo 6 meses para só então ir para os tonéis de carvalho, onde passa mais 18 meses para adquirir seu gosto amadeirado.

Todas essas etapas superadas, A Bodega foi inaugurada em 2003 e essa cachaça pura é, desde a inauguração, a mais vendida. Porém, de conversas com amigos e freqüentadores, a casa começou a produzir algumas misturas em galões de vidro. A primeira foi com cambuci, mas logo vieram a tangerina, a amora e muitas outras, que formam hoje 50 tipos diferentes.

Entre essas, a mais procurada é a de figo que, doce e verde, chama a atenção entre as demais. A preferida do Sr. Ernesto é a de nêspera. A minha… fica difícil decidir. Em um teste rápido, gostei da nêspera, da mexerica, da carambola…

Há ainda um outro atrativo muito especial no local: um agradabilíssimo boteco dentro da casa, todo em madeira, charmoso e aconchegante, com grandes janelas de vidro que dão para o quintal cheio de hortênsias.

Esse boteco é o lugar perfeito para tomar um refrigerante ou uma cerveja e provar os embutidos de lombo de javali, calabresa e picanha ao alho trazidos diretamente de uma fazenda na região de Jarinu.

Enquanto isso, você pode ir provando mais algumas cachaças, pedindo para o Tadeu preparar as garrafinhas que, sem dúvida, você levará e ir ouvindo as saborosas histórias do Sr. Ernesto.

Com grande prazer ele observa como a cultura da cachaça não vem dos livros, mas do povo, dos mais simples aos mais requintados, passando de geração a geração.

Uma frase ouvida de longe, vinda de um grupinho de clientes, proporciona um enorme sorriso em seu rosto. Ele confessa ouvi-la sempre e que essa é uma das suas grandes alegrias. É a prova de que alcançou seu objetivo.

Com o copinho na mão e provando uma nova pinga, a garota não se cansa de repetir: “meu pai precisa conhecer esse lugar…”

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