Pedro Schiavon | 14/07/2023 | 0 Comentários

OH! MELETE

* Estabelecimento fechado!

Primeiro veio o ovo (ou teria sido a galinha?). Um pouco depois veio a omelete. Dizem que ela surgiu na antiga Pérsia, onde os ovos batidos eram misturados com ervas e fritos, formando um prato chamado “kookoo” que, quando sua receita se espalhou pela Europa, deu origem à tortilla espanhola, à frittata italiana e à omelete francesa.

Algo me diz que a verdadeira origem é outra: ela foi criada pelo primeiro homem das cavernas que derrubou um ovo e, como já tinha o fogo, as ferramentas e alguma malandragem, tentou transformar o estrago em alguma coisa comível. Este homem não apenas conseguiu, como logo passou a ser cultuado como o primeiro grande chef de sua aldeia.

Aqui no Brasil, já na nossa era, o ovo atravessou fases gloriosas, quase heroicas, com a proliferação dos bifes à cavalo, quindins e afins, e outras terríveis, em que fora tratado como um perigoso vilão, considerado uma verdadeira bomba de colesterol, ameaça mortal para nossos corações.

Tudo para depois ser julgado inofensivo, vítima de um engano. O escritor Luis Fernando Veríssimo, genial apreciador da boa mesa, estuda inclusive pedir uma indenização por cada ovo não comido durante este fúnebre período. É justo.

Para tentar sanar um pouco de nossa culpa e fazer uma espécie de justiça histórica – ou um tipo de quota gastronômica – foi inaugurado em São Paulo, em julho de 2011, um restaurante que só servia omeletes!

Tratava-se do Oh! Melete (que depois mudou para Oh! Gourmet), criação da jovem chef Renata Porlan Ostrovsky e de seu sócio e cunhado Sérgio Antonini, que ocupava o antigo ponto do Regina Preta Bistrô, uma bela e charmosa casa de esquina com um pequeno salão e algumas mesas na calçada, em cuja cozinha Renata desenvolveu seus dons culinários.

O cardápio da casa era enxuto e despretensioso, com 14 opções de omeletes, algumas opções de acompanhamentos como arroz, berinjela, abobrinha, saladas e pães artesanais de fabricação própria. Tudo fácil, rápido, saudável, e gostoso.

E orgânico! Tanto os acompanhamentos como os ovos, matéria prima do sucesso da casa, que eram originários da Fazenda Yamaguishi, em Jaguariúna, que cria suas aves em galpões abertos, sob luz natural e sem hormônios.

Apaixonada pela culinária desde pequena, Renata aprendeu com a avó as primeiras receitas, depois aperfeiçoadas na faculdade de gastronomia e exaustivamente treinadas em suas próprias panelas.

Para a omelete de seu restaurante, ela usava dois ovos temperados apenas com sal e passados na frigideira com manteiga, formando uma fina e úmida panqueca que depois recebia os recheios.

As opções eram de 2 Queijos (emmental e gruyére) e de Ervas (tomilho, manjericão, sálvia e alecrim) até a Supreme (salmão defumado, cream cheese, dill e ovas de salmão) e a Mishmash (patê de fígado de galinha caseiro e cebola caramelizada), passando por opções que levavam queijos, presunto, bacon, espinafre, tomate, frango, molho bechamel, shitake, shimeji etc.

A clientela, fiel e formada em boa parte por casais, concluia sua experiência com a famosa tarte tatin ou com o caseiríssimo queijo com goiabada.

A segunda sexta-feira de outubro é o Dia Mundial do Ovo. Não ria, é sério! E saiba também que o primeiro dia de primavera, comemorado em setembro, é considerado o Dia do Ovo em Pé!

Em 1945 uma edição da revista “LIFE” publicou que toda a população da cidade chinesa de Chunking estava tentando equilibrar ovos no primeiro dia da primavera, pois, ao que parece, é o dia em que o planeta se encontra mais equilibrado. O cético jornalista Walter Rundle decidiu tentar por si próprio e descobriu que era capaz de pôr de pé vários ovos, sem nem mesmo usar o truque de Colombo, que equilibrou um ovo quebrando levemente seu fundo. E então escreveu a matéria para a revista.

Se você quiser tentar, fique à vontade. Já tentei há anos atrás e desisti. E, na verdade, prefiro o ovo já quebrado e dentro da frigideira da Renata.

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