WOLKENBURG CERVEJARIA (Cunha/SP)
Caros amigos – cervejeiros ou não: antes de começarem a ler este texto sobre a menor cervejaria do Brasil, certifiquem-se de que há uma geladeira por perto, que há cerveja dentro dela e que não seja qualquer uma (questão de respeito). Vocês vão precisar.
Nossa história começa em Speyer, cidade no sul da Alemanha famosa por sua catedral do século XI, onde Thomas Rau nasceu, cresceu e se formou mestre cervejeiro.
Foi também na Alemanha que ele conheceu Heike, uma brasileira descendente de alemães e austríacos, com quem se casou e que o trouxe ao Brasil por diversas vezes, até se estabelecerem em definitivo na cidade de Cunha, interior de São Paulo.
Encantado com a simpatia e a hospitalidade brasileira, com a natureza e a abundância de espaço encontrada na região, com o clima e a qualidade da água favoráveis e a estratégica localização – entre Rio e São Paulo e próxima a Parati – Thomas resolveu montar ali, em 2003, seu pequeno paraíso.
A Wolkenburg (Castelo nas Nuvens) ocupa uma imensa montanha, na qual após subir uma trilhazinha linda e que parece não ter fim você encontra duas casas brancas até bem grandinhas, mas que se perdem facilmente na imensidão verde da paisagem. Uma delas é a residência da família, a outra, a fábrica.
É neste lugar – que vale a visita mesmo para quem não gosta da bebida – que Thomas produz suas Hausbiere (cervejas artesanais) seguindo as regras da Reinheitsgebot (Nem tente pronunciar. Trata-se de uma lei alemã que garante que as cervejas sejam produzidas somente com produtos naturais, sem aditivos, conservantes ou manobras que minimizem o tempo de produção. A lei foi criada em 1516, enquanto aqui trocávamos ouro por espelhinhos). Ele explica que não é só pelo sabor ou pela certeza de um produto natural. É também uma maneira de valorizar a produção sustentável, dando preferência ao produto local, feito e vendido sem ser exposto a longas viagens e preservando o meio ambiente.
A visita, que passou a ser aberta ao público em 2008, inclui uma longa explicação sobre os processos de maltação da cevada, germinação, ferveção com o lúpulo, refrigeração, fermentação etc. E inclui a aguardada degustação das cervejas da casa: a Fit – leve, de baixo teor alcoólico; a Weiss – de trigo, com médio teor; a Landbier – tipo Indian Pale Ale, avermelhada, de sabor intenso e cremoso; e a Dunkel, escura, criada pelos monges há mais de 600 anos.
Nosso anfitrião diz que, quando tem que trabalhar, prefere a Fit, que por ser mais leve não tira a disposição. A Weiss é a preferida para o almoço. A Landbier é para o final da tarde e, à noite, após o jantar, ele toma a Dunkel. Diariamente. Sempre. E é magro.
Todas elas são naturalmente turvas. É uma opção de Thomas pela não-filtragem do produto final para evitar a retirada de substâncias saborosas e saudáveis. Ele faz questão de recomendar que o fermento remanescente no fundo da garrafa seja ingerido junto com o último copo, agitando cuidadosamente a garrafa antes de servir.
Uma novidade é que nos últimos anos a microcervejaria vem promovendo alguns eventos, que são um motivo a mais para ir até lá. Em abril tem a Fischerfest (a festa do pescador), com trutas e outros peixes; em julho a Bretzelfest, com vários pratos típicos e o irrecusável bretzel feito por dona Frederick – mãe da Heike e sogra do Thomas; e em outubro a Oktoberfest, já conhecido por todos como a festa do chopp.
Outra inovação da Wolkenburg é a produção da Steinbier, uma espécie de cerveja licorosa ou licor de malte, cuja receita é criação do próprio Thomas, ou seja, não existe em nenhum outro lugar do mundo, só lá. Durante a produção, ela é fervida na pedra sob uma temperatura de 300 graus e a produção é de apenas 300 garrafas por ano, vendidas por encomenda em uma lindíssima garrafa de cerâmica – homenagem à tradição da cidade. Se você quiser reservar uma, corra até lá, pois não conheço o destino de 299 delas.