Pedro Schiavon | 14/08/2023 | 0 Comentários

BAR DOS CORNOS

O filósofo cearense Marcondes Falcão Maia, mais conhecido como o cantor Falcão, sabe que a besteira é a base da sabedoria e que esse negócio de chifre é coisa que os outros colocam na sua cabeça. Por isso, numa dessas andanças por São Paulo, foi conhecer o Bar dos Cornos, como comprova sua foto orgulhosamente ostentada na parede do folclórico botequim do Jaguaré.

Pois é. Quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida, aparece uma coisa dessas. Na seara dos bares temáticos que assolam esse mundão, este é o único (pelo menos eu quero crer nisso) a homenagear as vítimas das infidelidades amorosas.

Mas o bar se chama, na verdade, Recanto Nordestino e, mesmo com a fama do exótico apelido, faz justiça a seu nome oficial por alguns motivos. Um deles é porque quando você consegue escapar da agitação das avenidas Jaguaré, Politécnica e Corifeu e subir a ruazinha que leva ao bar, você mergulha em um ambiente cada vez mais tranquilo até encontrar o boteco, que tem todo o jeito daquelas vendinhas antigas de uma cidadezinha qualquer no sertão do Nordeste.

Outra razão, que é a principal, é porque o forte do cardápio é a típica comida nordestina, daquelas que não é qualquer cabra que encara de frente sem se preocupar com os fundos. Tem jabá na manteiga de garrafa, rãs, feijão de corda, fava com costela de porco, caldo de mocotó e sarapatel. Para os estômagos mais “paulistas”, tem pratos portugueses como alheira, linguiça portuguesa e bolinhos de bacalhau, além de petiscos tradicionais, como croquetes, batatas e pastéis, com destaque para o “Disco Voador dos Cornos”, um pastel redondo, de carne, queijo e vinagrete. Tudo bem servido, afinal, um dos mandamentos da casa é “onde come um, comem dois”.

E para esquecer a “dor de corno”, a casa oferece as cervejas tradicionais e uma carta com centenas de cachaças, incluindo aí a marca da casa, batizada de “Cachaça dos Cornos”. Tudo isso num cardápio bem simples que traz ainda a singela advertência: “Não servimos mulheres. Quem quiser que traga a sua”.

O apelido do bar surgiu do estranho hábito do Sr. Fernando Pereira, proprietário da casa, de utilizar algumas cabeças de boi e alguns outros chifres na decoração. Como a quantidade de objetos só fazia crescer, o fato chamou a atenção de um frequentador, que soltou a frase definitiva: “isso aqui está parecendo um bar de cornos!”.

“Seu Fernando” viu nisso uma maneira de chamar a atenção para seu comércio e passou então a ampliar sua decoração. Ela pode ser considerada o que há de mais fino em matéria de grossura: dezenas de chifres, garrafas penduradas, peles de animais e aquelas canecas de chopp que imitam genitais masculinos e femininos. Tudo de uma delicadeza paquidérmica que pode ser observada bem antes de chegar ao local, graças ao “Cornomóvel”, um antigo landau com um imenso par de chifres sobre o capô que fica estacionado na frente do boteco e que eventualmente serve para levar algum cliente mais debilitado em casa (já imaginou chegar em casa assim?).

O Bar dos Cornos foi inaugurado em 1988 na rua Araicás, mas em 2007 mudou-se para o local atual, mais espaçoso, que lhe permitiu abrigar mais mesas e colocar música ao vivo todos os dias. No repertório, é claro, pagode e sertanejo para corno nenhum botar defeito.

A cereja do bolo é o “detector de cornos”, uma gravação com algum tipo de sensor que, assim que as pessoas adentram o recinto, ressoa no alto-falante um “Bem-vindo, amigo corno! Bem-vinda, amiga corna!”.

Se sua intenção for ir a um lugar bonito, provar comidas criativas, tomar bons drinques e paquerar, não passe nem perto de lá. Mas se a ideia for se divertir em um lugar simples e dar boas risadas com os amigos, o Bar dos Cornos pode ser uma ótima pedida. Aproveite.

Afinal, como diz o “poeta” Falcão, “é ganhando que se ganha, é empatando que se empata, e perdendo que se perde. É nascendo que se nasce, é morrendo que se morre, é vivendo que se véve!”.

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