Pedro Schiavon | 25/08/2023 | 0 Comentários

BENJAMIM BOTEQUIM

Alguns lugarzinhos parecem mais “amigos” do que outros. Não se trata de conhecer as pessoas, nem da decoração, nem de pequenos truques para deixar o lugar mais agradável ou aconchegante. É alguma coisa no clima, no jeito, na ginga, que te fazem ter a certeza de que você vai gostar dali mesmo antes de botar os pés lá dentro.

O Benjamim é um lugar assim. Você olha de fora e o acha bacana, mas parecidíssimo com centenas de botecos também bacanas que entopem a cidade, mas há algo que atrai, difícil de identificar. Então você se aproxima, escolhe uma mesa, pega o cardápio e começa a observar para tentar decifrar o mistério.

A primeira coisa que você repara é que todo mundo ali está feliz. Não é aquela euforia e gritaria de alguns bares, nem o agito da paquera, nem as comemorações das turmas, nem o clima romântico dos casaizinhos. Mas há uma pitada de tudo isso temperando a tranquila felicidade estampada em um público pra lá de variado.

Ao meu lado, o jovem casal parece estar em início de namoro e belisca uma bela tábua de frios, mas sua felicidade não parece maior que a do outro casal, que está algumas mesas adiante, já beirando os 50, e que ataca um farto frango à passarinho.

A grande mesa de amigos do lado de fora parece comemorar o final do expediente com uma longa, gelada e interminável sequência de cervejas, acompanhadas de várias porções de deliciosos pastéis. Sua empolgação é bem parecida com a dos dois colegas que tomam chopp enquanto observam o grupo de garotas que acaba de pedir mais alguns drinks clássicos da casa.

A mesma alegria pode ser notada nas outras turmas, nos casais, amigos, famílias, jovens, idosos, homens e mulheres que frequentam a aconchegante casa.

Aconchego parece ser mesmo a palavra de ordem no Benjamim. Há uma familiaridade, uma cumplicidade entre os clientes, a vizinhança, os funcionários e os donos da casa, que a gente percebe no ar. A impressão é que todos são velhos amigos.

Duas coisas incomuns de se ver por aí reforçam essa impressão. A primeira é o fato de a casa oferecer mantas aquecidas aos frequentadores nos dias frios – delicadeza que reforça a sensação acolhedora do lugar. A outra, que atesta a simpatia da vizinhança, é que suas deliciosas empadinhas são produzidas, na verdade, no forno da Dona Lúcia, octagenária vizinha do lado.

Do extenso cardápio, a clientela parece clamar por “fulano”, “beltrano”, “cicrano” ou por “qualquer coisa”, nomes dados aos fartos escondidinhos de carne seca, acompanhados respectivamente por cremes de mandioca, mandioquinha, abóbora e batata.

Clama também pela feijoada light servida aos sábados. As panelas de barro servem separadamente arroz branco, feijão preto, costela, lombo, carne seca, paio e linguiça portuguesa, além dos molhos caseiros, com uma mistura de pimentas comari, malagueta, dedo-de-moça e outras. Entre os secos, linguiça e costela fritas, bisteca, torresminho, mandioca, farofa, couve e laranja. O caldinho de feijão e a batidinha de limão também estão incluídos.

Mas a paixão da casa parece ser mesmo as caipirinhas. Tem coisas como caju, lichia, mexerica, jabuticaba, limão com gengibre, morango com canela, maracujá com pimenta vermelha e carambola com manjericão. Mas a campeã de pedidos é mesmo a Benjamim, que leva vodka, abacaxi, maracujá, uva, kiwi e amora que, além de gostosa, é provavelmente a mais bonita que já vi.

Será que o fato de o lugar, o público, os comes e os bebes serem tão bons bastam para explicar tal felicidade? Acho que ainda não. Tem mais algum mistério que ainda não consegui descobrir. Quem sabe daqui a umas 15 ou 20 visitas ao local? O fato é que, por uma razão ou outra, existe, na esquina das ruas Vieira de Morais e João Álvares Soares (antiga Benjamim Constant, daí seu nome) um lugarzinho especial e feliz.

Posts Relacionados

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.