Pedro Schiavon | 04/08/2023 | 0 Comentários

BOTECO DO VINHO (Campos do Jordão/SP)

Os bares e restaurantes de Campos do Jordão podem ser divididos em duas categorias: os que vivem lotados de turistas e os que pouca gente conhece. Quase sempre, estes são muito melhores.

Ocorre que o turismo da cidade se divide exatamente desta forma: 95% das pessoas querem ver e ser vistas, preferindo se acotovelar pelas ruas de Capivari, na disputa por mesas em restaurantes caros e ruins, onde serão explorados e mal atendidos, enquanto os outros 5% ousam desbravar lugares mais bonitos, tranquilos e agradáveis, conquistando, muitas vezes, ótimas descobertas.

Para estes, uma boa alternativa é o Boteco do Vinho, que fica num dos lugares mais improváveis da cidade, bem ao lado do portal, à esquerda de quem chega a Campos.

Embora quem passe por ali costume estar atento apenas ao próprio portal, basta olhar para o lado e identificar a fachada com letras enormes, que identificam com eficiência, embora passem a impressão de um comércio mais “popular” (no mal sentido) – o que, definitivamente, não é.

O “Boteco” é, a princípio, uma loja extremamente agradável e receptiva, pensada para receber as pessoas com carinho e informalidade, deixando os toques de sofisticação para os pratos e bebidas. E é essa autenticidade que faz toda a diferença.

Embora Arthur de Oliveira tenha criado o espaço em 2010, sua história vem de longe. Há décadas sua família é envolvida com hotelaria, gastronomia e, claro, com vinhos. E todos fazem parte da empreitada, tornando o lugar ainda mais aconchegante.

A maior prova disso é dona Maria de Lourdes, mãe de Arthur, que aos poucos foi criando petiscos, elaborando pratos e montando todo o tentador cardápio para a casa, juntando seu bom conhecimento gastronômico àquelas receitas de família, que passam de mãe para filha e que têm aquele gostinho inconfundível de comidinha caseira.

Se a ideia for curtir o friozinho jordanense, escolha uma mesa dentro da casa e aproveite o jantar. As opções vão do polpetone com purê de batata ao fetuccini com carne de sol e alho poró, passando pela grande estrela do cardápio: a rabada marinada no vinho cabernet, servida com polenta e agrião. Ela pode ser muito bem acompanhada por um dos incontáveis vinhos tintos nacionais, chilenos, argentinos, portugueses ou italianos ali presentes.

Se o plano for petiscar durante a tarde, prefira uma mesa no deck e enquanto observa o entra-e-sai de turistas da cidade, mergulhe nas lascas de parmesão com geleia de pimenta ou no camembert derretido com geleia de frutas vermelhas. Se o frio chegar cedo, aproveite para pedir um caldinho de queijo gruyere ou um de mandioca com carne de costela e pimenta de cheiro. É possível que os sommeliers da casa lhe indiquem um vinho mais leve, talvez até de produção própria ou de pequenas bodegas nacionais para lhe fazer companhia.

É a deixa para você ir provando mais e ficando por ali, fugindo da correria do mundo. Observe as hortênsias que nessa época do ano colorem a entrada da cidade, o desfile dos automóveis que chegam aos montes, o bondinho que passa ali no alto como num cartão postal e tudo mais. Aproveite a vida bem devagar, saboreando cada gole dela.

Se prestar atenção, dá até para ouvir o Renato Godá cantando “Eu sei que os automóveis correm, que os trens nos trilhos correm, e o tempo ainda é pior. Porém, posso esquecer das horas, abusar da demora, pra ficar com você”.

Posts Relacionados

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.