CERVEJARIA NACIONAL
Dizem que devemos experimentar de tudo na vida, desde que dê prazer, não seja caro e que não doa muito. E se valer a pena, a experiência deve ser aproveitada sem pressa e com sentidos aflorados, buscando aproveitar melhor cada momento.
Talvez não tenha sido com essa frescura toda – mas provavelmente foi com essa perversa intenção – que o pessoal da Cervejaria Nacional criou o “Sampler”, uma tábua de aparência inocente, com 5 copos com os 5 tipos de cerveja fabricados pela casa – cruel invenção feita para que o visitante possa provar um pouco de tudo antes de escolher o seu, ou, o que é sempre mais provável, os seus preferidos. Mas falaremos dele daqui a pouco.
Criada pelos mestres cervejeiros Alexandre Sigolo e Luís Fernando Fabiani, a Cervejaria Nacional é o único bar de São Paulo que fabrica sua própria cerveja. Trata-se de um galpão de três andares com diferentes ambientes, comandado pela simpatisíssima Patrícia Reali, que recebe com dedicação e explica a todos o funcionamento da cada.
No primeiro pavimento está a fábrica, onde você facilmente vê os tanques nos quais são produzidos cerca de 5 mil litros de cerveja por mês. Feito de maneira artesanal, ela não leva enzimas, antioxidantes, estabilizantes ou qualquer outro produto químico que comprometa sua qualidade ou sabor.
No segundo andar, mesas e mais mesas, além de um bar com uma chopeira de fazer inveja a qualquer cervejeiro, com nada menos do que sete torneiras, e um pequeno palco que serve de base para o “Som dos Maltes”, projeto que leva músicos de jazz, MPB e rock à casa em alguns dias da semana.
No terceiro piso, mais mesas e a poderosa cozinha do chef Alexandre Cymes, de onde saem diversos tipos de grelhados, com destaque para a costelinha de porco e porções incrementadas, como o mix de salsichas.
O variadíssimo e amplo cardápio inclui brusquetas muito criativas e bem servidas, além de caldinhos, bolinhos, batatas, alheiras e galetos na cerveja. Inclui ainda algumas originalidades, daquelas que não se encontra nos bares comuns, como o pão caseiro de cevada preparado com o bagaço do malte da cerveja ou a porção de queijo coalho servida com melaço de cana.
E uma coisa a mais, que ajuda no cardápio: todas as comidinhas são sinalizadas com um copinho colorido, indicando qual o tipo de cerveja que melhor acompanha aquele prato. E assim voltamos ao Sampler.
Como já disse, a maldita tabuinha traz 5 copos, com as 5 cervejas fabricadas pela casa, que recebem os nomes de personagens do folclore nacional: a pielsen “Y-Iara”, mais leve que as demais e bem dourada; a Weiss “Domina” (mais conhecida como a Dama de Branco), feita de trigo com perceptíveis aromas de cravo e banana; a stout “Sa’Si” (homenagem ao travesso Saci), uma cerveja escura com forte amargor de malte torrado; a red ale “Kurupira”, amarga e avermelhada herdeira da receita da Drake’s Brown Ale; e a IPA “Mula” (a sem cabeça), de teor alcoólico elevado e um acentuado sabor de maracujá e algumas frutas cítricas.
O primeiro problema é que não se trata de pequenas amostras, mas de copos mesmo, de 120 ml cada um, o que faz com que quando você acabar de “experimentar”, já terá tomado uma garrafa inteira de cerveja, com 5 sabores diferentes.
O segundo problema é que dificilmente você gostará de uma só. Com isso, você certamente escolherá duas ou três para finalmente tomar um copo “de verdade”, com 320 ml do seu sabor preferido. Ou – o que é ainda mais provável – partir logo para os de 500 ml.
O terceiro problema é que, como se sabe, não convém provocar certas “lendas” de nossas terras. Como comprova o “velho Dito”, são mais do que conhecidas as histórias de quem já foi enfeitiçado pela Iara, assombrado pela Dama de Branco, tapeado pelo Saci, iludido pelo Curupira e assustado pela Mula-sem-cabeça.
Minha sorte é que são todos meus amigos. Quem quiser comprovar que apareça por lá e veja. Estarão todos comigo, numa roda bem divertida, contando causos e tomando cerveja.