EMPANADAS
Sempre um clássico. Tá bom, tá bom… o Empanadas não é mais um lugarzinho propriamente dito. Mas ele é um dos grandes exemplos de um lugarzinho que virou um lugarzão, mas manteve todas as suas características de…lugarzinho.
O Empanadas nasceu “Martin Fierro” em 1980, da improvável sociedade entre um argentino, o Hugo, e um chileno, o Reinaldo. Coisas da Vila. O bar era um pequeno salão, com um balcão e algumas mesinhas de lata.
Este salão, que é hoje apenas uma parte do bar, continua lá e, exceto pelas mesas que agora são de madeira, ele é exatamente como era, com seus posters de filmes, o ônibus pintado a mão pelo Chocante e as fotos de novos e antigos frequentadores.
Cult desde sempre, o bar logo atraiu os estudantes da USP, os jornalistas, os alternativos em geral e, principalmente, a turma do cinema, chegando a ter parcerias com a Tatu Filmes e a Filme Brasil, numa época em que na Madalena só haviam ele, o Sujinho e muita tranquilidade.
É dessa época que vem a maioria dos posters e até um Kikito, ganho por Mario Mazzetti no festival de Gramado e que acabou indo morar na estante do bar, “para ficar exposto em lugar público”.
Desses longínquos tempos trago lembranças tão doidas que chego a pensar que joguei fora as memórias e guardei as alucinações.
Uma delas é de que sempre que eu queria encontrar o Erick e o Morto, numa época em que os celulares não existiam (nossa! Estou velho!), ligava primeiro para o Empanadas e só depois para as casas deles.
Outra delas é do Glauco, saudoso “pai” do Geraldão, assassinado em 2010. No final dos 80 / início dos 90 ele vivia por ali, tomando cerveja, rodeado de amigos e usando o bar como inspiração para muitos de seus personagens.
E ainda outra, inesquecível, ocorreu no dia do impeachment do até então presidente Collor, quando o bar, lotado, acompanhou voto a voto a decisão pela TV. E a multidão, emocionada e de mãos dadas, chorou e cantou junto o Hino Nacional! A comoção foi tamanha que cada um dos presentes ganhou uma cerveja por conta da casa.
Foi também mais ou menos nessa época que o bar mudou de mãos, sendo assumido por quatro funcionários da casa: o Robson, o Léo, o Rafael e o Santos, e de nome, passando a se chamar oficialmente “Empanadas Bar”, como já era conhecido por todo mundo, mesmo.
Aí o que era bom ficou melhor. De lá pra cá o bar só fez crescer em fama e em tamanho, engolindo a assistência técnica e a farmácia que ficavam ao lado e ganhando espaço para a clientela que já não cabia em suas mesas.
Acostumados com o trabalho da casa e com o contato com o público, os quatro sócios tornaram-se muito mais do que donos de bar. Tornaram-se amigos próximos tanto dos garçons quanto dos clientes.
O clima familiar entre os funcionários é tão grande que, além de muitos deles serem mesmo irmãos, vários resolveram ser pais quase ao mesmo tempo, formando uma legião de crianças que em dias mais festivos aparece por lá. E aos clientes mais chegados cabe sempre perguntar ao Messias, ao Ricardo, ao Dunga e ao Val como vão o Gustavo, a Giovana, a Lavínia e o Ravi. E por aí vai.
Faltou falar das empanadas propriamente ditas. São deliciosas. Tem de carne, frango, queijo, palmito, espinafre, calabresa, carne seca, Romeu e Julieta, Roquefort etc. São feitas do mesmo jeito há décadas, de um modo que a massa fica fina e macia sem estourar. Já tentamos fazer em casa e não deu certo. Já tentei descolar a receita, também sem sucesso.
Com o tempo aprendi que comer lá é muito melhor. Assim, dá para provar as bolachas de provolone e parabenizar o Dunga pela São Silvestre. Dá para curtir o estilo e o papo meio neohippie dos frequentadores e saber os detalhes da última ida do Robson a Pernambuco. Dá para experimentar as caipirinhas e “secar” o Corinthians do Messias.
O Empanadas é assim. Uma grande confraria. A Vila como ela era.