Pedro Schiavon | 01/09/2023 | 0 Comentários

GUADALUPE (Santos/SP)

No início de novembro eu queria estar no México. Na maioria das outras datas também, mas esta é especial, por causa do “Dia de los Muertos”. Em qualquer lugar do mundo, esta é uma data especial para homenagearmos os entes queridos que se foram. No México também. A diferença é que lá eles fazem isso com uma festança daquelas!

A data envolve uma mistura de tradições astecas e maias com ritos católicos e celebra uma espécie de comunhão com os mortos. Os festejos começam um dia antes e terminam um dia depois! Os cemitérios são enfeitados com velas e as pessoas sentam-se entre as lápides e “comem com os mortos”. Não faltam pratos típicos, o tradicional “pan de muerto”, as caveiras de chocolate, muita música e, claro, muito tequila. Tudo dando forma à ideia de que devemos “comer, beber e gozar a vida, porque a morte é certa”.

Como sinto a presença de “mis muertos” diariamente (e sua ausência a cada segundo), prefiro homenageá-los sempre, e de preferência como os mexicanos. Mas como não irei ao México tão cedo, a saída é entrar no espírito e visitar o Guadalupe, que é – e aqui não quero provocar discussões ou controvérsias – o melhor restaurante mexicano que eu conheço.

O Guadalupe nasceu no começo deste milênio de uma ideia de seu proprietário, Mário Rebelo, de montar uma casa diferente, que fosse um pouco bar, um pouco restaurante e até um pouco balada.

Isso se nota logo que se chega ao local, pois ao contrário da maioria das casas do gênero, o restaurante fica em um charmoso casarão numa rua do Gonzaga, bem no coração de Santos. Seu jeitão é mais de bar, com iluminação agradável e muito bem estudada para combinar com as típicas paredes coloridas e com as diversas imagens de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira homenageada. E, claro, a casa tem uma parte de bar muito competente, de onde saem variados tequilas e deliciosos margaritas.

Cabe aqui um aparte: a chef e jornalista mexicana Lourdes Hernándes-Fuentes ensina que para os mexicanos, é “o” tequila, bem masculino mesmo. Quanto ao margarita, também é masculino, e leva o nome da flor. Marguerita é nome de pizza, não de bebida!

O jeito de bar interfere no clima da casa, despojado e festivo, que recebe um público bastante jovem que se espalha por mesas no quintal e em pequenos ambientes formados nos dois andares da casa, todos com um som ambiente muito gostoso, que dispensa as músicas típicas e os cansativos mariachis. Esse alto astral é também influenciado pela juventude da equipe de atendentes.

Mas, mesmo com todos esses detalhes, o que encanta no Guadalupe é realmente a sua cozinha. É dali saem que saem os deliciosos tacos e burritos que encantam a todos, feitos com grande capricho e talento, com os melhores ingredientes e usando, por exemplo, carne desfiada para o recheio, como manda a tradição e ao contrário da suspeita carne moída que já estou até me acostumando a ver por aí. Também de lá vem a ótima porção de nachos acompanhada de guacamole, cream sour, salsa e frijoles. E vem ainda o caprichado chili, o famoso refogado de feijão e carne moída, acompanhado com queijo derretido e pimentas jalapeño.

Mas não é só. Como a casa foge do sistema de rodízio, sobra espaço para novas criações, como o jalapeño recheado com cream cheese e coberto com massa crocante, ou o nacho com machacas, que traz a tortilha coberta com pasta de feijão e recheada de carne desfiada, queijo, tomate, azeitona, geleia de pimenta, guacamole e salsa picante. E dá-lhe cerveja e tequila para acompanhar.

É claro que eu preferia ir para o México. Queria nadar em Puerto Escondido, ver os murais do Rivera, visitar o museu da Frida, apreciar as ruínas maias e astecas, ir a um show do Santana e conhecer a Salma Hayek, que nem mora mais lá.

Mas aí eu me lembro dos Paralamas que sabiamente confortam: “Tudo isso me faria feliz. Absurdos me fariam feliz. Pero nada me hará tan feliz como dos margaritas”!

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