Pedro Schiavon | 11/08/2023 | 0 Comentários

HEINZ (Santos/SP)

O simples fato de uma bar existir há mais de 60 anos em uma cidade onde a maioria de seus concorrentes abrem e fecham ininterruptamente numa velocidade impressionante deve ter algum significado. E o significado é óbvio: o Heinz é o melhor bar de Santos. Ponto.

Esse tipo de declaração costuma causar polêmica, afinal, todos têm suas predileções, a cidade é grande, tem dezenas de bons bares e restaurantes e cada casa tem sua especialidade. Mas neste caso, não há o que contestar. O Heinz é especial.

A referência número 1 da casa, aquela que todos se lembram assim que ouvem o nome “Heinz”, é o chopp, considerado desde sabe-se lá quando, o melhor da cidade. O precioso líquido é consumido tão vorazmente em suas mesas que a casa chega a servir quase 10 mil litros por mês. Ele é o primeiro a ser atendido pelos fornecedores. Se não sobra para os outros bares, paciência.

O chopp do Heinz é servido – sempre – na temperatura de 1 grau centígrado, cremoso, em uma taça fininha e bonita chamada Trianon, após passar pelas mãos de um chopeiro com mais de 20 anos de experiência e por uma serpentina de 200 metros.

Mas até ele chegar até ali foi uma longa história, que começou na segunda guerra mundial. Isso mesmo! O bar foi inaugurado em 1960, mas foi em 1939 que o navio alemão Windhuk aportou em Santos com mais de 200 tripulantes, fugindo de um cerco naval inglês e ali permaneceu numa quarentena que durou anos.

Quando o Brasil entrou na guerra, em 1942, muitos desses alemães já estavam integrados à Santos, com muitos amigos na cidade e habituados aos costumes locais. E um deles era Karl-Heinz Misfeld que, anos depois, com a ajuda do amigo e, pouco depois, sócio, José Anastácio dos Santos, montou o Heinz.

Mas o fato de servir o melhor chopp passa a ser só mais um detalhe quando você conhece o resto do cardápio, que oferece porções e pratos alemães, sempre com produtos de primeiríssima qualidade e muito fartas, além de algumas incursões pela cozinha brasileira, também no mesmo nível.

Do lado alemão, você pode se acabar no kassler, no joelho de porco, no lombo com batatas, nos salsichões, nas porções de gorgonzola, parmesão, nas tábuas de frios ou nos canapés, sem se esquecer do steinheger para acompanhar os chopps que, claro, serão muitos.

Do lado mais abrasileirado do cardápio, mergulhe nos caranguejos e nos mariscos, ambos servidos nos finais de semana, na companhia de enormes e caprichadas caipirinhas.

Já se passaram mais de três décadas que o velho Heinz e seu sócio e amigo José Anastácio se foram, mas nem parece. Os antigos clientes estão todos lá e contam suas histórias com a sensação de que aconteceram ontem, embora com uma dolorida saudade.

A eles fazem companhia os da nova geração, filhos e netos de antigos frequentadores, além dos novos que vão chegando e se enturmando.

Quem também continua na casa são os garçons. Alguns são até mais novos, mas outros estão ali há décadas, como José Bernardino, o seu Zé, que está lá quase desde a inauguração do bar e que conta histórias engraçadíssimas dos tempos em que o Alexandre e a Mônica ainda eram bebês (desculpe, Alê. Não podia deixar de contar isso…).

Alexandre e Mônica Baum dos Santos são filhos de José Anastácio com a Sra. Osmilda Baum dos Santos e hoje tocam a casa com a amiga e sócia Darci Mercki, nora de Karl-Heinz Misfeld. Os três estão sempre por lá, na mesa 12 do Heinz ou nas casas vizinhas Armazém 29 e Paulistânia Café, outros frutos da parceria.

Não bastasse tudo isso, o Heinz ainda fica na esquina da Pindorama com a Lincoln Feliciano, um dos lugares mais agradáveis da cidade, por onde curiosamente todo mundo passa mesmo não sendo caminho para lugar nenhum e que misteriosamente consegue ser um local tranquilo e agitado ao mesmo tempo.

Minha sugestão é chegar por ali ainda de tarde e, se tiver sol, descolar uma mesinha na varanda e ver a frequência ir mudando aos poucos. Primeiro vem o pessoal mais velho, depois a turma que sai do trabalho e por fim a moçada que invade a rua inteira durante à noite, mantendo um clima cada vez mais festivo e feliz.

O problema é ir embora. A sorte é que o Heinz é um bar eterno, em todos os sentidos. Ele está lá há mais de 60 anos e continuará lá por muito tempo. E nós também.

Posts Relacionados

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.