MADELEINE JAZZ BAR

A rua Aspicuelta é famosa na Vila Madalena: concentra bares, empórios, lojas e restaurantes diversos, para públicos, paladares e ouvidos de todos os estilos.

Caminhando à noite na parte da rua que desce (se você estiver vindo da Fradique Coutinho) ou na parte que sobe (se vier da Medeiros de Albuquerque), ao se aproximar do número 201 você ouvirá timbres diversos: palhetas, contrabaixo, saxofone, pratos de uma bateria, talvez as teclas de um piano. Uns passos a mais e você se sentirá tão envolvido por aquele som e pelo local de onde ele vem que será impossível recusar a proposta para que a sua noite comece ali, no Madeleine.

O local que o abriga foi descoberto anos atrás por André Guilguer, o idealizador: uma casa em que funcionava uma loja de móveis antigos e que não estava a venda. André sempre foi apaixonado por música e buscava, com o auxílio de amigos, um espaço em que pudesse conciliar música e gastronomia de maneira a proporcionar o que descreve como uma experiência surpreendente.

Em 2009, após um planejamento que durou cerca de três anos, a loja de móveis antigos passou a acolher o charmoso Madeleine, com trilha sonora jazzística, variada e aberta a experimentações, um cardápio audacioso, uma adega com dezenas de rótulos de vinhos e uma carta de cervejas especiais.

A casa

É através de uma grande vitrine que se vê da rua os músicos durante as apresentações. Essa proximidade de quem está do lado de fora com a manifestação artística, esse embalo que acontece do lado de dentro, torna o local ainda mais irresistível. O prêmio para quem cede a esse apelo é a sensação deliciosa de assistir a uma performance exclusiva, de altíssimo nível e para poucos eleitos. Uma das muitas magias do Madeleine.

O “observatório” desse bistrô que é ao mesmo tempo bar e restaurante – ou, se preferir, desse bar que é ao mesmo tempo restaurante e bistrô – é o mezanino, a intervenção arquitetônica que confere intimidade e vista exclusiva dos shows e do lounge de forma análoga.

Se o clima for propício a conversas mais próximas da companhia do que das bandas de jazz, basta passar pelo balcão do bar até chegar à varanda e, de lá, ter a visão de 180° da Vila Madalena, num amplo terraço coberto. Quem vê a fachada do Madeleine não é capaz de imaginar que os espaços internos se multipliquem tanto e, mesmo assim, preservem o clima aconchegante, intimista e romântico.

Falando no balcão do bar, aliás, é bom comentar que as bebidas fazem parte de uma área que se destaca, pois detém criações exclusivas que levam nomes de lendas do jazz, como os coquetéis Midnight Special, Cantaloup Island ou o Amilton Godoy, feito sem álcool à base de frutas vermelhas e pimenta jamaicana.

E caso a pedida da noite seja a informalidade (ou a intimidade), leve seu par até o subsolo para que vejam juntinhos a fantástica adega climatizada, cuidadosamente mantida pela casa, assim como a extensa carta composta por mais de 70 rótulos. Se o momento pedir um brinde, aproveite para provar o exclusivo espumante Madeleine Brut, elaborado a partir da mescla das uvas Chardonnay, brancas, e Pinot Noir, tintas, além de aromas cítricos.

A disposição natural para um contentamento inesperado

Diz-se que no século 19 as manifestações religiosas dos escravos africanos por liberdade levaram à New Orleans muita miscigenação harmônica e rítmica, improvisações e toda a influência das chamadas músicas de trabalho e das músicas folclóricas, as spirituals. Essas características do jazz em seu nascedouro são preservadas na proposta musical do Madeleine: como o próprio jazz, artistas nacionais e internacionais transitam por inúmeros estilos musicais para ligarem improvisação e interação de instrumentos e vozes, somando esses elementos à peculiaridade da interpretação que jamais será a mesma, quantas vezes forem executadas as composições.

Assim o digam os músicos do Hammond Grooves, o Organ Trio do apresentador Daniel Daibem, ou os da banda GroofBoogaloo, resultado da mistura de funk, blues, drum’m n’ bass e MPB, ou mesmo os que fazem do Trincheira MPB Jazz uma impressionante variedade de arranjos, todas essas bandas fixas da casa.

É essa a mesma orientação da gastronomia do Madeleine, assinada pela chef Ana Soares que usa toda a expertise em consultoria gastronômica e toda a criatividade para harmonizar sabores e elaborar pratos originalíssimos, sejam eles à base de massas, risotos incrementados – como o Madeleine, peixes -como o Linguado ao Vermut e vôngole ou o Robalo ao limone, saladas ou as pizzas-bistrô assadas em forno a lenha, como a de massa verde e recheio de mussarela de búfala, tomates marinados e rúcula, que você vai experimentar e adorar, assim como os petiscos e sobremesas especiais.

Para aqueles que relacionam o nome da casa ao bairro em que ela está localizada, o sempre atencioso Gil Dantas – sommelier e que se tornou sócio – nos explica que a “responsabilidade” é toda de Marcel Proust: o narrador de “Em Busca do Tempo Perdido”, escrito em 1913, mergulha um pedaço de um pequeno bolo – a Madeleine – no chá que estava tomando, o que o faz relembrar e trazer ao presente os sabores, cores e odores sentidos em momentos especiais de sua remota infância.

Nós, que não somos personagens da literatura, mas da vida desse mundo, podemos nos apropriar das ideias do escritor e do poder transformador do jazz para esquecer um pouco da nossa contingência e mortalidade e vivermos, no Madeleine, “algumas horas de poderosa alegria”, como Proust escreveu.

R. Aspicuelta, 201 – Vila Madalena, São Paulo

Telefone: (11) 2936-0616

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