CASTELÕES
Texto do livro “50 restaurantes com mais de 50 – 5 décadas da gastronomia paulistana”, de Janaína Rueda e Rafael Tonon
Pode até não ter sido ali que a pizza foi servida pela primeira vez em um restaurante em São Paulo, mas historicamente trata-se do primeiro estabelecimento exclusivamente aberto para prepara-las e vende-las na cidade. A castelões é uma senhora pizzaria aberta em maio de 1924 no bairro do Brás, e sua inauguração não é um marco apenas por ser a casa com mais tempo permaneceu aberta produzindo a receita napolitana, mas também – e principalmente – por ter ajudado a propagar o consumo de uma comida que determinou um importante traço do hábito alimentar do paulistano. São Paulo e pizza foram apresentados um ao outro e, desde o primeiro minuto, um verdadeiro caso de amor nasceu.
E poucos lugares são tão especiais para celebrar esse enlace quanto essa ancestral casa fundada por uma família napolitana numa região que ainda resguarda um clima de bairro de cidade do interior. O ambiente é todo cantineiro, também porque o estabelecimento muda de identidade durante o almoço, quando as pizzas dão lugar às massas e carnes. Mas sem precisar trocar de fantasia: a qualquer hora do dia, a vestimenta é a mesma – toalhas xadrez na mesa, piso de ladrilho, vinhos pendurados, garçons de gravata borboleta. Desde o princípio foi assim.
Outras coisas também não mudaram nem evoluíram, como a carta de vinhos e o antigo hábito de não aceitar cartões como forma de pagamento. Se não chegam a criar um charme saudoso à experiência de visitar a casa, esses detalhes pouco a atrapalham. A comida é o que vale a visita ao Brás, que infelizmente já não carrega a antiga vivacidade de bairro de lazer do paulistano. A Castelões, pizza que leva o nome da casa, feita com calabresa e mussarela, extrapolou os limites do labiríntico salão da Rua Jairo Góis e foi parar em dezenas de cardápios de pizzarias da cidade – ainda que poucas, como as da rede Bráz, lhe concedam o crédito –homenagem. A marguerita é outra boa pedida, assim como a meia aliche, meia mussarela (chamada de pizza bianca & nera). Não há muitas opções (são só 18), e a última e “mais nova” criação já data de mais de duas décadas.
No almoço, quem brilham são as massas, como o fusilli artesanal com molho de calabresa, mas há espaço no menu até mesmo para o onipresente filé à parmegiana. No final de qualquer refeição, é providencial arrematar a ocasião com uma sacripantina, um doce com chantili e cereja, ou com o famoso canolli da casa – mas é preciso dar sorte, pois nem sempre tem.
Embora haja uma nostalgia em comer ali e conversar com os atendentes que há décadas servem gerações de clientes (muitos deles até hoje vão com filhos, netos), a Castelões se mostra muito atual no seu rigor: nunca tirou os olhos da crosta da massa de pizza assada no forno (na ativa desde 1931) a quase 700 graus celcius, que vem com a borda tostada na medida. Nem dos ingredientes que a cobrem: os tomates, o queijo, o manjericão fresco, tudo de notável qualidade. Tradição não é ficar parado no tempo – como a família calabresa Donato, que administra a casa desde 1950, quer deixar bem claro. É pegar carona nele para poder seguir sempre adiante.
R. Jairo Gois, 126 – Brás. Telefone: (11) 94721-3355
O livro traz, na sequência, a receita da clássica pizza Castelões. Mas, nesse caso, só no livro mesmo, ok?