BISTRÔ DO POETA (Conservatória/RJ)
“Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho… / O luar cai sobre a mata, qual uma chuva de prata de raríssimo esplendor. / Só tu dormes, não escutas o teu cantor revelando a lua airosa a história dolorosa deste amor…”
Você pode gostar de música pop, de rock pesado, de música eletrônica ou até de ritmos que não convém mencionar, mas, inevitavelmente, você irá se apaixonar pelas serestas de Conservatória.
A cantoria embala o vilarejo nas noites de sexta e sábado e nas manhãs de sábado e domingo, quando músicos e turistas saem pelas ruas emolduradas por prédios coloniais entoando cantigas de amor e recitando poemas, numa tradição que envolve lendas e histórias incrivelmente românticas desde as últimas décadas do século XIX.
E num lugarzinho assim, nada melhor do que comer canções e beber poesias. É mais ou menos isso que você encontra no Bistrô do Poeta, charmoso restaurante bem no centro da cidade, com deliciosas comidinhas e bebidinhas que nos fazem mergulhar ainda mais no clima sedutor do local.
Ali, você pode começar sua refeição com um couvert Adélia Prado ou uma tábua de frios Paulo Leminski, se deliciar com um filet mignon Manuel Bandeira ou um feijão tropeiro com pernil assado Mário de Andrade, e completar com um cheesecake Cora Coralina ou um pudim de leite Paulo Silveira – poeta que inspirou o bistrô e que não poderia estar presente em outro prato, já que a receita é de sua esposa, D. Marly, avó da caprichosa chef e proprietária da casa, Thayta Vasconcellos.
E não pense que os nomes dos pratos vêm do acaso, como mera ilustração. A salada Torquato Neto, por exemplo, é composta por um mix de folhas, cenoura, beterraba, palmito, ovo cozido e tomates em rodelas, e leva molho rústico com base de azeite, alho e manjericão – tudo colorido, diversificado, perfumado e transbordante como ele sempre foi. O pastel de angu com carne seca e queijo, clássico dos sertões, não poderia ter outro nome senão o de Guimarães Rosa. E a moqueca de camarão Jorge Amado, com arroz, farofa e chips de banana da terra, faz inveja aos livros de receita de Dona Flor.
Thayta conta que o Bistrô surgiu do sonho de criar um lugar aconchegante, onde a música, a arte, a poesia e a culinária pudessem se encontrar proporcionando uma experiência única. Deu certo. Então aproveite para dar um tempo para a alma, tomando um bom vinho e ouvindo as mais belas serestas provocarem seu coração.
“Lá no alto a lua esquiva está no céu tão pensativa… / As estrelas tão serenas, qual dilúvio de falenas, andam tontas ao luar… / Todo o astral ficou silente para escutar o teu nome entre as endechas / e as dolorosas queixas ao luar…”