DONA FELICIDADE (Cunha/SP)
Aconchego, comida boa e muita tranquilidade no interior de São Paulo
Nem sempre o nome de um lugar serve como referência para aquilo que procuramos. Em Cunha você encontra caipirinha no Celeiro, cachoeira no Pimenta, cerâmica no Jardineiro e macarrão no Caminho do Ouro. Felicidade, entretanto, é o que você mais encontrará no final da estrada de terra que leva à pousada e restaurante Dona Felicidade.
Os motivos são muitos. O Dona Felicidade nasceu do sonho do casal Almiro Pontes e Maria de Lourdes Lopes Reis – que meia-hora depois de você conhecer serão, para sempre, o Miro e a Lu – que conseguiram trocar, após uma batalha de anos a fio, a insanidade de São Paulo pela tranquilidade de Cunha.
E este é o primeiro motivo para você ir até lá: Cunha, que por si só, já é um lugarzinho com todos os ingredientes que um bom lugarzinho precisa ter: cultura (são dezenas de ateliers de cerâmica), ecoturismo (já perdi a conta das cachoeiras, parques e mirantes), gastronomia (da boa, com muitas alternativas) e muito sossego e receptividade por todo lado.
Outra razão é o lugar. A pousada/restaurante fica entre as montanhas bem perto da junção das Serras do Mar, da Bocaina e do Quebra-Cangalha, tendo apenas alguns grandes chalés, suítes, as casas dos proprietários, o restaurante, um campinho, uma piscina, a horta e uma infinidade de jardins repletos de flores e frutas.
Como nunca fui hóspede da pousada, pularei esta etapa, embora conheça alguns “frequentadores” como o Lanes, a Rafaela, o Sílvio e outros que, aparentemente, desistiram do resto do mundo, pois vão para lá em todas as oportunidades que têm. E vamos ao restaurante.
Pois bem, aqui começa o drama. Abro espaço para um aviso importante para não ser posteriormente acusado de nada: se você estiver de regime, não passe nem perto de lá. Se possível, pare a leitura aqui e vá para uma academia. Corra bastante e depois me conte como foi. Mas se você gosta realmente dos prazeres de uma boa mesa, vambora.
O restaurante é um galpão bem rústico e bonito, com grandes mesas e um belo deck. Tudo em madeira. A especialidade da casa é a cozinha mineira, bem caipira, do tipo leitão à pururuca com tutu de feijão, couve, torresmo e farofa. As opções são muitas, que vão da rabada com polenta mole até a truta com shitake, passando por galinhadas, moquecas, coelhos e churrascos.
O problema é que o Miro é daqueles caras que nasceu com o dom e a paixão para cozinhar, e tudo que faz, até o mais simples acompanhamento, é maravilhoso. Você já ouviu alguém dizer “nunca comi um arroz tão bom?” Pois eu já. E “é a melhor couve que já comi”? Pois é. Imagine então o feijão, as carnes, os molhos…
Só para dar um exemplo, a farofa, que para nós, leigos, parece a coisa mais simples do mundo, é preparada com três tipos de farinha diferentes, bacon, linguiça e sabe-se lá mais o quê. E tudo é farto, criado ali ou colhido no pé.
Enquanto o Miro cuida da cozinha, a Lu atende os visitantes. E se ele nasceu com o dom para cozinhar, ela nasceu com a simpatia transbordando por todos os poros.
Das seis da manhã até a hora que precisar, ela fica correndo pra lá e pra cá, recebendo todos com um grande sorriso e um abraço, servindo as mesas, contando todas as novidades da cidade, indicando lugares legais (mesmo que concorrentes), preparando uma caipirinha de limão-cravo, contando dez mil piadas, oferecendo um doce de leite e, se tiver música, cantando e dançando. E nem pense em ir embora, porque ela não deixa.
E ainda tem o Murilo, o principezinho da casa, que conheci aos 6 anos mas já é adulto, santista roxo, fã de Neymar e Robinho, bom de papo e de garfo, vive “pescando” os clientes do restaurante para ir jogar bola, conhecer os cavalos, passear pelas trilhas da pousada, andar de bike ou simplesmente ficar conversando em turma, nas redes do quiosque.
Daí, como sempre, você se dá conta que chegou lá de tarde e já é noite faz tempo e a coisa continua animada.
E quando você pensa que acabou, o papo recomeça. As ajudantes vão embora, alguns hóspedes se recolhem e os que sobram vão se juntando aos poucos em uma única grande mesa, junto com o Miro e a Lu, para uma última cerveja, um café, um docinho, uma Juveva e mais uma história e outra piada.
E só quando todo mundo já está caindo de sono você consegue ir embora – triste e contando as horas para voltar.